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Não tenho medo de demônios, mas, corro dos que acreditam neles.







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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ídolos

Há personalidades que surgem como se fossem um sol.
Por algum motivo, nos encantam.
Parecem-se com a gente, ou com o que se queria ser. Fazem o que a gente gostaria de fazer.
E fazem muito bem, muito gostoso.
A estas personalidades chamamos ídolos, e se o encanto perdura, viramos seu fã.
O importante é que o ídolo se define de uma forma absoluta, inconsciente, que se procura resumir classificando-a como 'identificação'.
Há mais que só identificação na escolha de um ídolo.
Só vamos adquirir consciência plena do significado com o tempo, e podemos permanecer na condição de fãs sem jamais tomar conhecimento da profunda relação que há entre nossos ídolos e as verdades de nossa alma.
É curioso como vivenciamos nossa 'adoração' de forma tão despreocupada e como ela é tão significativa.
Entre meus vários ídolos, uma é, sem dúvidas,a grande rainha, a mãe de todos os outros. Seu nome é Clementina de Jesus, chamada a Rainha Quelé pelos seus seguidores.
Tive o gosto de conhecê-la, abraçá-la e beijar sua mão.
Recebí esta benção com a seriedade de quem recebe a primeira comunhão.
Tia clementina fazia uma participação no show do grupo Joelho de Porco, do Odair Cabeça de Poeta. Teatro Martins Pena, Na Penha. 1973,talvez.
Findo o show, corremos para a rua de trás do teatro e ficamos atentos à saida.
Quando ela saiu acompanhada da filha e de mais uma mulher, ríamos e tremíamos, eu, meu irmão, minha prima e minha irmã, mas não perdíamos um gesto sequer daquela pessoa, que era um monumento vivo, diante de nós e de nossas mãos.
Era como uma visagem, aqueles trajes coloridíssimos, brilhantes, e aqueles colares e pulseiras grossos e profusos. E panos sobrepostos, enrolados, as pontas que caiam...
Recebemos o autógrafo emocionados, vendo que ela pouco jeito tinha com a caneta e, pela sua letra, que escrever exigia dela mais esforço do que cantar.
Sua figura era fantástica, anacrônica,mas alí, naquele cenário de época que é o centro da Penha,era como se ela tivesse saído da beira do fogão da fazenda e ido à missa na igreja dos escravos.
Há uma Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito em frente ao teatro.
Há outra justamento no Largo do Rosário, na Avenida São João.
Eram igrejas exclusivas para as devoções dos escravizados e dos libertos, pois era proibida a entrada dos pretos nas igrejas luxuosas dos brancos.Mesmo depois da "Lei Áurea, as divisões persistiram.
Na Rua do Carmo,próxima à Praça da Sé, há a Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, onde se levevam escravos para receber a extrema-unção, antes de irem para a Igreja dos Enforcados, na Praça da Liberdade, onde fujões capturados encontravam seu destino e alcançavam a tão sonhada liberdade.
Os corpos das vítimas eram transformados em sebo, com o qual se dava polimento em paredes de pedras de várias igrejas, como o Mosteiro de São Bento.
Clementina a minha frente, eu em seus braços.
Fui parar em 1800.
Nunca saberemos direito o verdadeiro significado de nossas adorações.

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