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Não tenho medo de demônios, mas, corro dos que acreditam neles.







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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Perplexidade com o paradoxo

Tive uma formação católica rigorosa. Minha avó e minha mãe andavam sempre pelas igrejas,e sentia-me bem naquele ambiente de devoção.
Assim que aprendí a ler, peguei uma edição ilustrada da Bíblia, que fora de meu avô, e lí inteira.
Quando meus irmãos foram para o catecismo, fui também, mesmo com a idade incompleta, eu os acompanhei por todo o ano, copiando as apostilas a mão,com ilustrações que eu mesmo fazia. No próximo ano,fiz novamente,na idade certa,recebendo minhas lições mimeografadas pela catequista.
Fiz a primeira comunhão, e sonhava com o dia de minha crisma.
Com oito anos, um dia saí sozinho e resolvido: fui até a igreja e disse ao padre de minha intenção de tornar-me padre.Ele deu uma rápida olhada, e disse: -Você é muito novo para saber se quer ser padre.Espera até você fazer quinze anos. Então, se ainda quizer,volte aqui,e eu mesmo te encaminho.
Continuei lendo tudo que encontrava a minha frente,insaciável.
Saiu na revista Manchete uma matéria,com o título " Um dia na vida do Papa". Tratava-se do Papa Paulo VI.
Fantástico! Mostravam os aposentos do Papa, sua cama, seus tronos( já no fim da vida, não mais podendo andar, aquele papa era transportado por quatro homens, em um trono portátil).Descreviam sua dieta requintada,composta de delicadezas vindas de várias partes do mundo. O que se poderia encontrar de melhor e de mais fino.O guarda-roupas Revelava a opulência da Igreja Católica Apostólica Romana.Tudo era rebordado com fios de ouro.Inclusive os sapatinhos, sempre célebres...
Anéis e cetros valiosíssimos,cada um podendo matar a fome de um continente.
Alguma coisa intuitiva dizia-me que algo estava errado. Algo não tinha coerência.E aquilo tudo que eu estudara tanto,nas lições do catecismo? E os ensinamentos de minha avó?
Fiquei desnorteado e me sentindo traído.
Concluí que não era aquela a devoção a que deveria me entregar, pois contrariava totalmente minha noção de desapego cristão e compaixão humana.
Só me reencontrei,depois de um fato ocorrido na casa de minha avó, em meio a uma faxina que ela fazia em seu armário.Deparei com a certidão de casamento dela, onde lí o nome de minha bisavó: Esperança Fé da Caridade. Achei o nome curioso, e quiz explicações.
Minha avó explicou-me que aquele não era o verdadeiro nome de sua sogra.Aquele era o nome que deram a ela, quando chegou aprisionada da África . O nome original se perdeu.Valia o nome cristão que era dado: marcavam no negro, com ferro em brasa, a identificação de quem seria seu dono e lhe davam um nome bíblico; então,a criatura podia ser escravizada em paz.
Tudo me estarrecia, mas eu nem sabia articular a polêmica que se formava em minha cabeça.
Uma indignação vinha das arbitrariedades,e um encantamento,da revelação que
se afigurava. Eu era descendente de africanos. eu era descendente de gente escravizada. Eu era Negro!
Como ainda hoje, pouco ou nada se encontra sobre cultura negra,sabedoria africana.Mas eu buscava e continuo ainda buscando.
Há muito a ser revelado.

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