# Uma vista de baixo para cima

do mundo em que vivo e da vida que levo #



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São Paulo, São Paulo, Brazil
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Não tenho medo de demônios, mas, corro dos que acreditam neles.







Avanço

Avanço
para algum lugar

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Bobalização,novos tempos, novas exigências

Numa conversa sobre as 'coisas' dos brasileiros, um dos meus amigos ressaltou: 'não podemos esquecer, que o povo brasileiro saiu do analfabetismo e foi direto para a televisão..."
Quando surgiu a televisão, a ideia de ver algo que estava acontecendo em outro lugar era fantástica.
As imagens eram transmitidas ao vivo, até que desenvolvessem o 'video tape'.
Ver tevê era quase um delírio, e como nem todos tinham o aparelho, era comum ir-se visitar quem tinha, para ter aquele novo prazer.Vestiam-se paletós ou 'tailleurs' geometricamente cortados.
As pessoas iam ocupando cada vez mais tempo sentadas no sofá, com os olhos pregados na tela, para não perder nenhum detalhe. Antes do 'vídeo tape', quem visse, viu...
Esperava-se o intervalo comercial, que era a hora do 'reclame', para correr ao banheiro,passar na cozinha e pegar um cafezinho e mais uma fatia de bolo de fubá, e voltar correndo para ver o programa.
Tanto que, o hoje conhecido 'plim-plim' deve ter surgido para satisfazer esta necessidade: alertar os distraídos ou demorados que o 'reclame' já tinha terminado e era hora de voltar para a sala. Se bem que hoje já seja comum ter um aparelho em cada cômodo e não haja mais risco de perder a cena da novela.
Mas, a fúria do povo por aquela nova mania chamava a atenção dos preocupados analistas da sociedade e do comportamento humano.
Discutia-se se a televisão não seria um perigo para a sociedade, para o desenvolvimento das crianças, para a integridade dos costumes...
A questão eram as 'pouca-vergonhas' que apareciam nos programas, como os beijos das telenovelas, por exemplo.
Também havia alguma preocupação com o fato de que as crianças iam deixando as velhas brincadeiras do quintal e da rua, para ficarem como que hipnotizadas pelos desenhos animados importados.
Questionava-se ainda, se a influência de tanta informação estrangeira não prejudicaria o amor à pátria. Para muitos a televisão era algo pernicioso, um grande problema.
A facilidade da imagem, entretanto, exerceu seu poder e viscejou altaneira, com golpes cada vez mais imbatíveis: O 'video tape', a imagem colorida, a alta-fidelidade e agora a tevê digital, com imagem em 'high definition'. Já não há mais qualquer preocupação com os efeitos que possam advir.
Nos velhos tempos, os que trabalhavam como atores, para chegarem ao sucesso, tinham que ser um pouco heróis.
Além de mil obstáculos práticos, como ter que mudar para o Rio de Janeiro e conseguir uma oportunidade, tinham que ter muito talento e muita garra para conseguir um lugar e para enfrentar os preconceitos, pois a sociedade qualificava as atrizes como prostitutas e os atores como transviados.
Não era fácil.
Mas todo mundo gostava de vê-los.
Aí chegaram os 'video games'. Outra febre.
Nem deu tempo para se desenvolver a discussão sobre os danos que os 'games' pudessem causar e surgiu o computador e com ele a Internet.
E é o Orkut, e são os 'sites' de convivência, e são os 'chats' e os blogues, com o agravante de que, agora tudo isso pode ser portátil e tanto fica muito mais intensa a força viciante, como mais fácil a satisfação do vício.
Se pensarmos que o povo continua analfabeto e a maioria dos alfabetizados ainda não dominam nem as regras da língua, nem a livre expressão de idéias e nem têm realmente idéias concretamente estruturadas, podemos dizer que a alta tecnologia desenvolvida, com seus maravilhosos recursos,e fortemente apregoada como necessária a todo o povo,esta parafernália tecnológica serve simplesmente de suporte à era da 'bobalização' em que vivemos.
Não há mais aquela sisudez dos meus tempos de adolescência, que fazia minhas linguagens em código ficarem timidamente guardadas só para mim, ou a vocação de alguns para o teatro exigir valentia heróica.
Antes eram raras as pessoas obesas, até porque elas se escondiam.
Hoje, não há mais pudores: as roupas de malha e moleton, amplas e cavadas mostram fartamente pessoas orgulhosas com suas gorduras, arduamente conquistadas com muitos pacotes de salgadinhos e bolachas recheados, em horas e horas plantadas diante da televisão com controle remoto. E vão agitadas, correndo para as 'lan houses', onde se esquecem da vida, transmitindo no Orkut sua linguagem econômica, resultante não da falsa pressa, dita própria dos dias de hoje e necessária, mas fruto da preguiça geral.
Preguiça de esforçar-se para aprender escrever, preguiça até de pressionar teclas, numa conversa cheia de preguiça de trocar idéias.
As preocupações são com os perigos da internet.
Será que pode ajudar, ou atrapalha nos estudos? Como evitar o assédio dos pedólatras do mundo inteiro? Como se defender dos víruses virtuais? Será que o 'internetês' vai destruir a língua-padrão?
Muita coisa mudou mesmo. Já não se confundem os artistas com marginais depravados, e nem eles precisam mais ser grandes heróis.
Hoje tudo está bem mais fácil: Para conseguir um papel principal na novela do horário nobre nem precisa de muito talento, basta ser filho de algum ator ou atriz, ou então, ter os olhos claros. Tanto faz se forem verdes, cinzas ou azuis!

domingo, 25 de abril de 2010

Padecer no Paraíso

Sempre vivi em São Paulo,cidade em que nasci. Morei em vários bairros, frequentei diversos meios, usufruindo da variedade imensa que a cidade me oferecia. Ao lado de minha paixão pela cidade, e do encantamento que as novidades me proporcionavam, também percebia o esmagamento que a grandiosidade e a velocidade podiam ocasionar no cidadão. De manhã, a população cheia de sono,cambaleava nas filas,que lotavam os ônibus que se arrastavam pela Avenida Celso Garcia,tombados de gente pendurada nas portas. Antes que o sol saísse, o povo inundava o Parque D. Pedro e subia como um enxame para o centro comercial,um labirinto de ruas frias e escuras, e se enfiava nas celas das repartições, dos escritórios, numa rotina inumana de papéis e números, por todo o dia, até que o Sol partisse, os pássaros já não cantassem mais, as flores já se tivessem fechado. Então escorriam de volta para os ônibus, e seguiam entorpecidos para os bairros,para cumprirem a rotina apressada da noite e caírem, o quanto antes, na cama que mal esquentava. Antes que o sol saísse,tudo se repetiria mais uma vez. E gente chegando,e chegando todos os dias, de todos os lados, para engrossar a disputa por uma chance,que assim diminuia mais e mais, para quem nasceu ali,na promissora cidade, e não tem para onde fugir...
Um dia acabei sendo espremido nesse esmagamento, e depois de esgotadas todas as possibilidades, fui morar no litoral.Fui morar em Peruíbe, cidade de sonhos, de férias, de lua-de-mel,onde o único semáforo servia mais como ponto de referência e para colorir o centro da cidade,que para conter o trânsito. E nem nessa pequena região asfaltada eu fui morar.
Cheguei à noite, e conforme a perua ia se enfiando pela rua de areia, a escuridão ia ficando mais densa, e fazendo parecer mil latejoulas as luzinhas repiscantes dos vaga-lumes, que vinham de dentro da negrura da floresta, como para um baile ao luar. Não tinha palavras.Não que elas não fervilhassem em minha mente, mas porque meu corpo não tinha força sequer para dizer o que quer que fosse. As despedidas breves e silenciosas, logo a perua partiu, num ruído de motor que se distanciava, diminuia, diminuia e ia embora,como se todo o mundo das máquinas se afastasse, e de repente me deixasse ali,sozinho. Agora, a realidade seria a da cidade pequena, que se gabava de, apesar de ser praiana, conservar um 'jeitinho' de cidade do interior... Uma cidade que gozava da fama de ser sossegada, vida saudável com o ar mais puro do Brasil, rodeada de Juréia,e onde até a lama cura e embeleza. Não havia rede elétrica. O bruxuleio da luz de uma vela me fez dormir.
Muito cedo acordei e fui encontrar aquela nova claridade, tão clara e tão úmida e tão silenciosa, de um recanto à beira da Mata Atlântica, em que os mistérios da mata seriam poucos, diante dos outros tantos que a 'cidade' mesma me viria a revelar.
A linha do trem, abandonada, divide a cidade em dois universos. Quando ia conhecendo os moradores, perguntavam-me sempre: 'mas, você mora do lado de cá ou do lado de lá da linha!'Do lado 'de cá' fica o mar, e beirando a praia, ruas asfaltadas e as pessoas privilegiadas. Do lado 'de lá' era a floresta e as pessoas 'condenadas'. Condenadas não só pela miséria e a dureza de viver atolado na lama, mas condenados ao preconceito,à discriminação e à exploração, de parte dos que moram nas ruas calçadas.
Eu nunca tinha defrontado tanta miséria. Famílias vivendo em barracos de madeirit, mal garantindo o que comer. Crianças expostas a um ambiente onde a criminalidade se apresentava como a grande opção para a vida.
Eu morava do lado 'de lá'. A primeira experiência marcante que tive foi o contato com as mutucas. Meus pés incharam e rebentaram inúmeras feridas pustulentas, com a picada das moscas,que revezavam entre os currais e as casas. Não sabia como vencer a inflamação e ninguém me orientou no que fazer. Além da absoluta falta de solidariedade,dispensada aos que chegam, o povo lá era marcado por um espírito de corrupção e servilismo aos poderosos do lugar. Há um ódio especial contra os paulistanos, que chegam mandando, com seus carros e seus tênis novos. O povo humilde, praticamente rasteja por alguns trocados. Há um medo de que o novo habitante tenha vindo para tirar alguma parca oportunidade,que os velhos moradores buscam a qualquer preço. No lado de 'cá', a maioria das casas são muito belas e permanecem fechadas por todo o ano. Pelas férias, desfaz-se aquele ar de cidade-fantasma, as portas-balcão se abrem, as churrasqueiras se aquecem. As ruas são invadidas por carros e o barulho altíssimo de música brega, que os veranistas põe para todo o mundo ouvir. A cidade deixa de ser um refúgio de aposentados e a juventude se espalha em total algazarra. Um dos maiores interesses dos que procuram a cidade parece ser a busca de negócios imobiliários.Com tanta gente querendo uma casa na praia, este é certamente um mercado em expansão. Mas, como o assalto às casas dos turistas é um dos esportes preferidos do povo em geral, a construção de imensos condomínios fechados vão devastando todo o resto do que foi a Mata Atlântica.
Pode parecer uma linda democracia, com gente de todo jeito misturada nos quiosques, nas noites animadas de todos os prazeres. Mas, logo se percebe que não há mistura alguma. Eu nunca tinha enfrentado tanto preconceito, tanta discriminação, que lá não são ´pecados'. O racismo em Peruíbe é explícito e aplaudido.Ouvi coisas que pensava ninguém mais diria, como ' ele é preto, mas é gente boa, tem a alma branca'. Os de lá mesmo me disseram que é devido à grande quantidade de curitibanos e catarinenses... Quando questionei a discriminação racial, ouvi de vários dos de lá, que 'não sabiam' que houvesse este tipo de discriminação ali, que pensavam que só houvessem separações por questões sócio-econômicas... Me avisaram que a prostituição lá, dava cadeia.As relações sociais e todas as outras são pautadas por deslavada hipocrisia.
Quando me envolvi com o carnaval local, pude sentir na pele até que ponto a corrupção ali era franca. E tive que suportar todo o provincianismo e a ignorância de uma gente relápsa e cheia de má-vontade. O roubo de autoria é costume geral, na comum corrida por dignidades. Passei maus bocados.De todo lado era vítima da rudeza e da desonestidade tão apreciada e enaltecida por todos. Pela primeira vez em minha vida, me vi intimado a comparecer numa delegacia de polícia, pois uma 'madame', que dera dinheiro para que sua filhinha saísse como destaque da escola, deu queixa contra mim, pois ela queria a fantasia pronta no dia seguinte. Esta história acabou em nada, obviamente, mas cheguei a passar fome,trabalhando para o Carnaval de lá, além de sofrer muitas humilhações. Apesar de ter ido me afastando cada vez mais das pessoas da 'elite' local, cheguei a participar da fundação do Conselho da Comunidade Negra de Peruíbe e da Academia Peruibense de Letras. Fiz parte do Conselho de Cultura Municipal e participei de um concurso, em que cantei uma composição minha, numa noite de imensa Lua cheia, do alto de um palanque, diante de um mar indiferente, com a praia lotada.Participei também de um concurso público, em cuja prova tive nota máxima, mas nunca ocupei o cargo, que já tinha sido criado para garantir um salário à filha de um vereador,amigo do prefeito. Em Peruíbe predomina o misticismo. A cidade é dominada pela Maçonaria, e o povo evita questionar os desmandos e as falcatruas, pois temem os maçãos,pois eles 'cultuam um deus- bode'. Todos já viram discos voadores, alguns tiveram contatos de terceiro grau e há mesmo quem já 'passeou'com os extraterrestres. Um rapazinho me contou que era vampiro, fazia parte de uma grande confraria, e que os vampiros 'não são nada disso que as pessoas falam'. Há todas as vertentes do moderno exoterismo.Do lado de 'lá', igrejas evangélicas se encontram em cada esquina, entre os barracos de madeirit, e pelas veredas acham-se oferendas em bandejas de isopor para os guias da Umbanda. Nas cachoeiras, alguidares com ebós para os deuses africanos. Quando frequentei um grupo coral de uma casa espírita,recebi um olhar inesquecível de uma mulher enorme e louríssima. Um olhar de puro ódio, em que eu podia ouví-la perguntando: 'o que esse negro está fazendo aqui?'
Vivi uns quinze anos em Peruíbe. Sem dúvida experimentei momentos maravilhosos e inesquecíveis entre a gente simples, conheci uma ou outra pessoa iluminada, mas aprendi que há muito mais 'stress' numa cidade tão pequena, do que em São Paulo, pois nas cidadezinhas a concorrência é muito mais violenta, as chances, quase nulas, e a gente é obrigado a estar muito perto de gente que não suporta a gente.
Morria de saudades da minha cidade cinza e não via a hora de poder voltar embora.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O animal humano não é o centro de nada

A marca que diferenciou o bicho-homem das outras espécies de animais e de seres vivos em geral foi a dúvida. Desde sempre, por não conseguir entender nada,a criatura que se pôs de pé,sobre suas duas patas,curvou-se em especulações,elaborando toda sorte de teorias para explicar de onde saiu, e justificar-se a si mesmo.
Criaram-se muitas histórias,mais ou menos ricas,conforme o caráter mais ou menos inventivo do povo que as criava. As cosmogêneses são as histórias sobre a criação do mundo e as antropogêneses são as explicações para o surgimento do homem.Estas composições vão servir de base para o que se chama religião,que é a adoração dos entes que teriam sido responsáveis por aquelas criações, e a forma de entrar em contato com eles.
Na Índia surgem relatos de aventuras românticas e empolgantes, com personagens fantásticas, meio gente, meio bicho, cheias de paixão.
Os gregos,tão afeitos ao abstrato,criam o Caos, e dele tiram um mundo povoado de monstros terríveis e deuses esplendorosos.
Os judeus,mais sisudos e misteriosos,criam um deus à sua imagem,barbudo e vingativo,sempre tomando conta de um casal ingênuo,cuja função nunca foi clara, pois eram proibidos de completar a criação. Mas o deus se distrai, e é vencido pela perfídia de uma serpente... Espragueja a humanidade, mas ela surge assim mesmo, contra sua vontade, a partir de um único casal!...
É curioso como estas histórias,que pretendem explicar a vida,e querem estabelecer a ordem,servem de argumento para a guerra e a morte, sempre que um povo invade o território de um outro e quer dominá-lo e explorá-lo.
Entretanto, a mais danosa dessas crenças talvez seja a de que o ser humano é a obra-prima da criação,centro de tudo, para o qual tudo o mais teria sido criado. Com isso ele se viu no direito de ir acabando com tudo.
É muito fácil perceber que o ser humano não é uma obra-prima, está longe da perfeição, e não é o centro de nada.Neste postulado o que ressalta é a vaidade do bicho-homem, sua presunção, sua empáfia.
Entre a dúvida e a vaidade, achou-se por bem estabelecer o ser humano como o único animal que tem consciência. Mas ele não consegue compreender que todo ser vivo tem consciência de si mesmo e do meio que o circunda, numa superposição de inúmeras dimensões de consciência.Só agora estão começando a 'achar' que os outros animais têm sentimentos...
As flores todas se voltam para o Sol, pois têm consciência da luz e da necessidade que têem dela.Eis a consciência de que precisam em sua realidade.
A germinação ocorre de uma fermentação, uma reação química entre diversos elementos. A vida prolifera como uma espuma ou um bolor. Mas o homem quer para si uma origem divina e não admite seu caráter finito de nenhuma maneira.Quer ser metafísico, eterno.
Esquecem que até sua pele é incompleta e insuficiente,o que os leva a tirar a pele de outros bichos,muito melhor equipados, para se agasalharem e se protegerem do mundo.
Não reparam na tecnologia envolvida na construção de uma maloca de marimbondos,pendurada num galho,suspensa no ar,capaz de abrigar uma população enorme e à prova de qualquer intempérie, como nenhum arquiteto ousaria sonhar, ou engenheiro arriscaria autorizar que fosse construída.
O trabalho da aranha, confeccionando suas teias, só é menos assombrosamente perfeito do que a constituição do próprio fio de seda que ela produz em seu organismo: matemática e química em um ponto extremo de precisão e eficiência. As abelhas conhecem o segredo de fazer mel,muito bem apelidado de alimento dos deuses,e ainda manipulam a genética, num tal nível, que garantem um seguro planejamento populacional e inabalável harmonia nas relações sociais. Você nunca verá uma abelha deprimida ou uma formiga revoltada, em greve. Mas ele, o 'homo sapiens' insiste que é a criatura superior jamais criada.
Tudo bem, que empata com as formigas no fato de destruir a fonte de onde tira seu sustento. As formigas podiam cortar as folhas e deixar os brotos lá, mas devoram tudo, pois como os humanos, elas acumulam só para si, e confiam que encontrarão mais,sempre. Acabam matando a planta...
Depois de muito perscrutar sobre a questão de sua origem, acabaram diluindo um pouco da pretensão,e concluíram os humanos, que deviam ser descendentes de macacos, baseados agora em pesquisas, estudos e análises bem mais críticos, a que chamam Ciência.Reconheceu-se, pelo menos, que o bicho humano é,apenas um animal.Mesmo dependendo de outros para quase tudo, e sendo muito mais agressivo que todos os demais, o homem nada mais é que um animal, mais um entre tantos.
Ainda há a argumentação do instinto, que seria o motor das ações dos animais, contrapartida da consciência humana. Mas se o instinto fosse tudo, como é que os animais enclausurados pelo homem mudam seu comportamento,'acostumam-se' a receber ração e não se readaptam a seu ambiente natural? Perdem seu instinto ou adquirem uma nova consciência de realidade?
Alguém me disse que o cão comporta-se em função de um entendimento seu, de que ele é responsável pelo seu espaço e por quem vive a seu lado, como se ele fosse, na verdade o dono que tem que tomar conta das coisas.Em sua consciência ele tem certeza de que ele é o centro daquele mundo. Talvez ajudasse o ser humano, se ele tomasse Consciência das minúcias maravilhosas que estão por toda parte, à sua volta.
Somos todos do gênero animal,a única diferença é que os outros não têm dúvidas,não inventam histórias, nem precisam fazer roupas.

domingo, 7 de março de 2010

Mulher no Brasil

Quando as naus portuguesas aportaram por aqui,não traziam mulheres.Os homens que tripulavam as embarcações também não eram a elite lusitana.Salvo um ou outro,sequer eram alfabetizados.No geral eram grandes aventureiros, dispostos a tudo para conseguirem qualquer coisa.depois vieram os condenados:assassinos,ladrões,criminosos com penas de prisão perpétua e de morte.Trocavam justamente essas penas com o serviço de vir popular as terras encontradas.Não vinham mulheres.
Ao desembarcarem, toparam com os nativos, que já os esperavam curiosos, tendo avistado as velas se aproximando.O primeiro contato, no geral, foi amistoso.Esta era a velha política já empregada em outras praias.
Fazer amizade, agradando quem se encontrasse com presentes luzidios, embriagadores, conseguindo,assim, instalar-se e acomodarem-se entre os donos do lugar que se iria dominar. E não parava aí o jogo sórdido.Já estavam os 'colonizadores' avisados de que deveriam imiscuir-se em prováveis rivalidades dos povos litorâneos com seus vizinhos do interior,criar uma aliança com eles, guarnecendo-os de armas européias,poderosas, e encorajar o enfrentamento dos 'inimigos'. A vitória dos litorâneos era coisa certa, com o aprisionamento dos vencidos, que ficavam à mercê dos recém-chegados.O sucesso era premiado com mais armas,fumo e bebidas alcoólicas... Uma festa.
Mas, não havia mulheres?
De acordo com os costumes indígenas,quando um bom amigo nos visita, nenhum agrado pode ser mais cortês do que deixar que a própria esposa durma com ele em sua rede, oferecendo-lhe seus carinhos.Os índios brasileiros não praticam agressões contra as crianças nem contra as mulheres.Não se entendem como donos um do outro.
Assim, a ordem real de espalhar o sangue português pelas terras novas não encontrou obstáculos por aqui, naqueles primeiros tempos. Ainda hoje, pude confirmar a naturalidade com que as índias encaram os estranhos.
Já ouvi muita gente descendente de índios dizer que a avó foi 'caçada a laço' na floresta, o que é um mito absurdo, pois nunca houve necessidade de se prear índias no Brasil.
Elas foram as matrizes de nosso povo,gerando os primeiros mestiços filhos de pais brancos, para compor o verdadeiro povo brasileiro.
E o sangue português trouxe para elas não só filhos, mas muita doença e morte também.Nossos ancestres ibéricos desembarcaram toda a corte de doenças venéreas antes inexistentes aqui e por isso fatais aos nativos.
As primeiras mulheres brancas viriam só bem mais tarde, quando as condenadas e degredadas foram exportadas para cá.Já na Europa era costume reunir as 'mulheres-da-vida,quando atingiam número excessivo,embarcá-las e despejá-las num país vizinho. Eram 'trocas' de Espanha para França, de França para Itália, da Itália para Portugal... Agora, Lisboa matava dois coelhos com uma só cajadada: limpava suas ruas do excesso de 'perdidas' e reforçava o contingente dos povoadores da colônia, com a vantagem de que elas representavam o puro sangue europeu...
cruel? Mas esta é a única verdade. A população do Brasil formou-se desta origem. Criminosos amantes das índias e das putas,aqui proclamadas senhoras.Todos nós brasileiros temos este código genético.
Depois, com a escravização de povos aprisionados em várias partes da África,seguindo o mesmo método de colocar nativos na perseguição de outros nativos,vieram os povos negros para engrossar o caldo.
Os de sexo masculino não tinham livre acesso às mulheres brancas. deviam apenas trabalhar, sendo escolhidos apenas os mais bem dotados para os trabalhos de reprodução.Mantinha-se, assim, a pureza racial dos negrinhos nascidos.Mas, os senhores e seus capatazes também buscavam as carnes negras das africanas, que nem tinham escolha e acabavam engravidando e gerando novos mestiços.
Muito bem.Hoje iniciei uma pesquisa no Google: Mulheres do Brasil.Apareceram duas fotos de índias, entre umas 50 páginas.Nada de negras.E olha que tanto se cantam as nossas queridas 'mães-pretas', aquelas mulheres escravizadas que tinham de parir anualmente pelo menos mais um brasileirinho para trabalhar para os senhores, ficando com suas mamas sempre cheias para sustentar os rebentos do Senhor do engenho com a Sinhá, cujo leite ralo não era suficiente para seus próprios filhos também anuais.
Desde aqueles tempos, a mulher resumia-se em um ventre, que devia estar sempre ocupado por um nascituro. Não lhes cabia experimentar prazer e muito menos expressar qualquer gozo no cumprimento de suas atribuições de geratriz.Se, por acaso, manifestasse algum sinal de satisfação com o ato sexual, era espancada pelo marido, que tinha sobre ela direito de vida, podendo esganá-la de acordo com as leis,em caso de desobediência.
Há muito pouco tempo, uma mulher pode vestir calças-compridas e ter um emprego fora de casa. Mesmo assim, se o marido autorizasse.
O Movimento Feminista coseguiu assombroso avanço, em menos de cem anos, como se pode ver,no referente a direitos e liberdade para a mulher.
Só o que me preocupa são as próprias mulheres, que trabalham ferrenhamente para formar novas safras de machistas, quando educam seus filhos e transmitem conceitos que assegurem que eles sejam 'machos' o bastante, como 'deve ser' um homem.Também me entristece, lembrando de tantas guerreiras vitoriosas, que conhecí, e de tantas lutas,de que também participei, pela igualdade, pela autonomia e a dignidade da mulher,quando vejo que ainda tanto está faltando e tantas mulheres relutam, procurando conservar velhos conceitos e papéis,pondo tudo a perder, quando só o que esperam é encontrar um 'macho' que as escravize e as trate como meras empregadas submissas, sujeitas às vontades deles, em troca de uma cadeira gentilmente puxada para elas sentarem, ou de um cartãozinho plástico, com o qual possam correr pelos shoppings, atrás de uma bolsa nova.
Lembro-me daquelas que se expuseram de todas as formas para garantir o direito a aprender a ler, que pagaram caro para terem acesso às urnas e dar seu voto,que abriram mão de tudo para poderem ocupar cargos importantes e poderem dizer o que pensavam.E vejo tantas que,no sentido de sua auto-afirmação, tudo o que querem é apenas alguns gramas de silicone estufando-lhes os peitos,ou um salto bem alto, empinando-lhes a bunda,só para ficarem mais atraentes para seus homens.
Mulheres modernas...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Glória às baleias!...

Antes de iniciar esta postagem, selecionando imagens, fiquei estarrecido com o volume de fotos que gostaria de publicar.
Se o tema, já de si, é estarrecedor, dá para se engasgado, quando se encara as possíveis dimensões reais que o problema alcança. Digo possíveis, pois certamente há muito mais do que o que se sabe.
Falo de exploração de animais, de maus tratos a criaturas reduzidas a coisa. Criaturas magníficas, exuberantes, que detêem força e beleza esplendorosas e se vêem enredados num destino lastimável.
Aliás,justamente por esta exuberância e beleza é que são alvo da brutalidade de ogros desprezíveis, sem luz nenhuma.
Como alguém pode viver tranquilo, mantendo uma criatura cativa, afastada de sua natureza, de seus iguais, impedida de realizar seus impulsos vitais, instintos que lhes proporcionam sua felicidade e garantem a concretização da vida?
Que valor pode ter alguém que obriga um animal a cumprir atividades completamente estranhas à sua rotina e intenções, para enriquecerem, para se alegrarem com a humilhação e o sofrimento do outro?
Sim, pois os bichos têem querer, têem vontades e, mais que tudo, têem necessidades.
Uma orca matou sua treinadora.
A mídia se volta para a notícia, mas não faz nenhuma crítica. Os responsáveis tergiversam e ainda anunciam que 'não vão sacrificar o golfinho, nem atirá-lo de volta a seu mundo'(onde,talvez, ele nem se adaptasse mais...)
E tudo continua como se fosse maravilhoso rodear uma piscina e fazer seres deslumbrantes de palhaços.
Provavelmente, seguirá havendo dementes que pagarão para desfrutar do mórbido espetáculo.
Bandos de imbecís,espalhados por todo o mundo, que se comprazem em humilhar animais indefesos.
O mundo 'civilizado'.
São galos, cachorros, elefantes, peixes, pássaros, touros, cavalos...
Com que direito alguém se apropria de uma criatura e desvia todo o curso da Natureza, só para satisfazerem não sei que categoria de prazeres?
Deformam espécies em laboratório, dificultando-lhes a existência.
Tingem cachorrinhos de cor-de-rosa para ostentarem riqueza e poder,confundindo completamentamente seus sentidos e a possibilidade deles mesmos se reconhecerem.
Mutilam os orgãos vitais de bichos que não poderão mais atuar no meio com segurança.
Esgotam as forças de criações, que têem que realizar trabalhos abusivos, sem descanso adequado, para sustentar os incompetentes, incapazes de garantirem-se por si próprios.

Os espanhóis deliram com a fúria de um touro, provocado até o limite, para ser inevitavelmente humilhado e torturado até morrer.
Os dinamarqueses realizam um festim macabro, insuperável até pelo mais tenebroso roteirista 'trash' americano, dizimando em massa, um número incontável de baleias, simplesmente para celebrar a passagem de seus queridos menininhos à fase 'adulta' mergulhados num literal mar de sangue.
Até indianos colocam elefantes em situações deploráveis, de angústia e dor.
Os brasileiros acham lindo comprovar como são machos,supliciando touros e cavalos em rodeios,
ou levando bois ao desespero, como fazem os catarinenses, só por que acham graça numa selvageria que justificam como 'tradição'.
Franceses e italianos promovem matanças por toda parte,para capturarem a pele glamorosa de bichos, que vão cobrir a pele deles,desbotada e fraca, incapaz de protegê-los do mundo.
Vergonhosas 'culturas', macabras 'tradições, costumes trogloditas, que levam todos estes animais bêbados a mau-tratarem os seres inocentes.
Para mim os bichos são gente(do latim gens).
Não perturbam ninguém, enfrentam a vida só com suas próprios recursos. Não merecem cair vítimas nas mãos das feras, bestas que se dizem humanas.
Não é justo que mentes doentias sacrifiquem a felicidade destes companheirinhos tão honestos, que significam a garantia de um equilíbrio e de uma harmonia necessários e benfazejos à manutenção do mundo todo.
Monstros vaidosos que pretendem completar o seu vazio engaiolando, enjaulando, enclausurando num aquário os mais belos testemunhos de que uma força criadora sofisticadíssima trabalha para produzir uma obra gigantesca, que assim perde todo seu sentido e sua graça.
Minha indignação só me faz desejar que, também contrariando seus princípios, cada vez mais os pobres escravizados destruam seus desprezíveis algozes.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Astrologia, Ciência que não falece

Há algum tempo, numa entrevista para a televisão, falava Caetano Veloso, uma das mentes mais estreladas no cenário da cultura brasileira,comentando sua parceria com Gilberto Gil.Para explicar o feliz entrosamento,lembrou ele que, sendo ele um leonino e um canceriano o Gil,era como se ele manifestasse um impulso mais berrante, agressivo e provocador e Gil revelasse certa ternura,docilidade,que se casavam na hora de compor e produzir suas obras.Mas, antes de recorrer a tal argumentação,frisou que "apesar de eu não acreditar muito nessas coisas"...
Temos aí um ótimo exemplo da relação que se tem comumente com a Astrologia e seus conceitos, de um modo geral.
Mesmo ele, homem tão ilustrado,não escapou ao preconceito que acompanha um conhecimento generalizado e arraigado em pessoas de todas as condições culturais ou econômicas.
Todo mundo sabe, pelo menos, qual é o seu signo astrológico, e esta é uma das primeiras informações sobre qualquer pessoa,que se requer quando a conhecemos.É comum, quando alguém toma uma atitude mais importante, mais significativa de seu modo de querer, dizer-se: '...é um leonino mesmo!'...
Seja católico ou protestante, todos recorrem aos arquétipos astrológicos para entender a alma de outras pessoas.
Acontece que a Astrologia não é uma religião,um dogma em que se pode crer ou descrer. A Astrologia é uma Ciência, talvez a mais antiga da humanidade, com seu princípio perdido nos primórdios da própria formação do que chamamos humanidade.
Dá-se a origem deste conhecimento como tendo ocorrido na Suméria, civilização que teria sido,também,o berço da escrita.
A observação do céu e dos astros sempre fascinou o ser humano, que nesta contemplação, além do deleite e do devaneio,percebeu o movimento dos corpos celestes e, mais que isso,percebeu a regularidade destes movimentos, a periodicidade de repetições em certas configurações formadas pelo posicionamento dos planetas e estrelas, e associou, pela observação das ocorrências coincidentes, influências que derivariam dos vários astros e das várias possibilidades de configurações, que se davam.
Associaram-se,ainda,a estes fenômenos astronômicos, comportamentos e tendências,não só dos indivíduos,como de toda a sociedade.Estabeleceram-se 'leis'e predisposições,que estruturaram o que se tornou uma Ciência.Não há aí, nada em que se 'acreditar', mas sim,conhecimentos que se pode ter ou não.
Voltando ao querido Caetano,talvez ficasse melhor dizer: "apesar de eu não entender muito destas coisas" do que " apesar de não acreditar muito"...
As pessoas não entendem do assunto, mas todos discutem-no, ainda que primariamente, e argumentam referindo-se a ele.Ouvi muitos 'incréus' dizerem: 'Ih, ele é de escorpião... não me dou com essa gente..." e, manter afastamento ou proximidade em função desta simples informação.
O conhecimento astrológico está arraigado no inconsciente dos povos,em formas variadas, de acordo com a cultura em que ocorrem, seja na China, na Suécia ou no Peru.
O interessante disto tudo, é o fato da funcionalidade dos dados astrológicos, a inegável infalibilidade das proposições, das quais nunca se escapa,devido à enorme abrangência delas.Se você distoa em alguns pontos, da descrição do perfil de seu signo,verá que, ao aprofundar-se nas complementações, como sígno ascendente, sígno lunar, decanatos,etc.,vai encontrar-se com exposições minuciosas de aspéctos íntimos e legítimos de sua personalidade e de seu caminhar no mundo.
Observando suas relações com outras pessoas, confirmará afinidades e desarmonias, que muitos chamarão de simples coincidências.
Por tudo isso, a Astrologia mantem-se vivíssima e em expansão, ainda em nosso tempo,tão pragmático,em que só se privilegia o saber que possa ser comprovado nos laboratórios.Esquece-se que os postulados astrológicos partem de longas e profundas observações, não só dos movimentos do céu,como das características e comportamentos humanos e das sociedades.Um saber amadurecido pelos séculos, que pode servir, melhor do que qualquer das titubeantes ciências 'modernas',tanto ao auto-conhecimento, quanto ao desvendamento de processos muito mais abrangentes, como o destino do próprio mundo manifestado.
Com toda a suposta evolução da atualidade,já seria hora de compreender que não existem mistérios, há apenas o desconhecimento de muitas verdades,muito preconceito que, se vencidos,poderiam enriquecer a humanidade e afastá-la de sua santa ignorância.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Família: célula dos problemas da sociedade

Vamos voltar num tempo em que a criatura humana era ainda um bicho peludo, que andava de quatro.Ninguém, ainda, sabia de nada.
Certas substâncias, advindas dos alimentos ingeridos,a elevação da temperatura e certos pensamentos provocavam a ativação de instintos animais e produzia-se um primeiro grande mistério da espécie humana: a ereção do pênis. Os homens ficavam encantados com aquele efeito, que se lhes afigurava como algo mágico. Sentiam-se enlevados para uma outra realidade, tinham grande prazer e se maravilhavam,quando no ápice do transe, dava-se a ejaculação.Antes de entenderem nisto, algum evento sagrado, viam aí uma grande diversão e presumiam um sinal de poder.Atacavam as fêmeas e introduziam~lhes o membro enrijecido, numa ação violenta, que causava grande susto, mas culminava com o prazer delas também.Como este estado acometia os amchos várias vezes, todos os dias,o ataque às fêmeas virou rotina.
De repente, as mulheres sangravam.Dava-se assim,o segundo grande mistério da raça.E este tinha caráter mais assombroso,não só pelo sangramento, mas pelo comportamento das fêmeas, que tornavam-se mais violentas nas véperas do evento.
Às vezes, a fêmea começava inchar,seu ventre intumecer-se e várias transformações se processavam,até que resultava no terceiro grande mistério: uma nova criatura surgia de dentro da mulher,movendo-se e parecendo uma cópia dela mesma.Ninguém,ainda,entendia nada,e para tudo foram inventando explicações místicas.
Mas a rotina seguia modificada.A selvageria daquelas eras exigia destreza em enfrentar as empreitas da sobrevivência, tanto no referente a sustentar-se,como no defender-se das outras feras famintas,e a mulher grávida, ou com a cria no colo,via-se fragilizada e ainda mais atraente aos predadores.
A precariedade da nova criaturinha induziu todo um relacionamento da progenitora e seu fruto,e a fragilidade dela estabeleceu nova dimensão de sua relação com os machos.
Esteja claro que, no princípio,o mais provável é que atirassem o bebê nalgum abismo, uma vez que aquele ser inútil só dificultava a vida.
Mas, logo perceberam que, crescido, o bichinho acabava sendo útil.Podiam usá-lo de vátias maneiras.
À medida em que desenvolveu-se a 'sociedade', filhos significavam braços para os trabalhos nada leves que a vida cobrava,podiam ser preparados para fortalecer as ações de defesa do grupo e, o mais importante,diante da decadência que assomava os seres com o envelhecimento,representavam a manutenção dos pais quando velhos e decrépitos.
Em cada época e em cada grupamento humano, dependendo da realidade que se apresentava, o filho vai ganhando condições diferentes,mas,sempre, era o eixo, em torno do qual se estabeleceu a noção de 'família'.
fique claro, também, que os velhos não deram à cria o este 'status': tomaram para si toda a importância e pregaram sempre,que o filho era devedor do benefício de existir,um favor concedido pelos genitores.
nunca entenderam que eles faziam apenas gozar os prazeres de seus instintos de animal e explorar o nacituro, e que a vida da criança origina-se muito além das vontades de seus libidinosos pais.
Antes mesmo de nascer, o destino do filho é determinado pelos pais.
Quem nunca ouviu alguém dizer: 'quero um filho para ir comigo ao estádio de futebol,me ajudar a atacar a torcida inimiga!",ou: " terei uma filha e ela será uma bailarina,tão delicada e mimosa quanto eu mesma nunca consegui ser!"?
Os pais querem que o filho seja uma complementação sua,e alcance os objetivos que eles não tiveram competência para alcançar.Cobram dele uma vida que ele nem sabia que ia ter.Fazem-no responsável por cultuar e servir aos pais,que normalmente produzem a criatura por mero acaso.
vejamos as famílias rurais, em que a enorme prole garante o serviço na lavouro e o descanso do pai, que olha da varanda, fumando seu cigarrinho, deitado na rede, os filhos suando na enxada.
vejamos as famílias de lugares em que a terra não favorece,que vendem seus filhos para satisfazerem a luxúria de alguns mais bem providos.
Vejamos as famílias que exploram alguns de seus filhos em trabalhos indígnos e investem tudo em um único filho, que será 'dotô',e garantirá a velhice confortável a seus 'criadores'.
Vejamos as famílias em que o pai abusa sexualmente de meninos e meninas, por verem nisso um direito de pai.
Vejamos as famílias que atiram a criança importuna no cesto de lixo, ou pela janela do apartamento.
Vejamos os casais,que vingam-se mutuamente enfiando agulhas no corpo do filho.
E não esqueçamos de situações como a da Itália,em que a natalidade descresce,não tanto por desinteresse sexual dos vaidosíssimos homens italianos,mas por prevenção contra a caríssima responsabilidade que tornou-se ter um filho numa cultura como a deles.
Vemos que a selvageria daqueles tempos,de seres humanos peludos andando de quatro,não se afasta muito da brutalidade dos dias de hoje, de seres estúpidos e alienados.
Eu pergunto: quando se perceberá que a grande 'graça' está na criatura, cuja vida é dada pela força da Natureza,e não pela cópula do indivíduo?Quando os pais assumirão,com total satisfação e desprendimento,a responsabilidade por um ato seu e entenderão que, naturalmente, o filho lhes será grato,se foi bem tratado e preparado,e não abandonarão seus velhos,voltando para a casa de onde foram expulsos, para limpar, voluntariamente, a bunda de seus pais, quando eles se virem necessitados?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Futuro Condomínio

Aquilo,de que a História se repete é isso mesmo... A História vai se repetindo à nossa frente,descaradamente,sem qualquer pudor pela falta de originalidade!
Vocês se lembram... Napoleão se alastrando,o negócio ficando pequeno lá na Europa, com pestes e tudo,povo sempre na miséria e fome,Espanha em pânico,Inglaterra maquinando mil coisas. Não teve jeito...E no aperto, originais foram os portugueses,que apesar de, na hora do se-ficar-o-bicho-pega-se-correr o bicho come, terem decidido pular na água salgada e fugir, mostraram que os nobres também tinham lá seu valor.
É que não passaram pelo que passava um escravizado, mas a porcaria era boa... deviam aparecer até urubús em volta das naus.Uma família real em alto-mar,balançando na incerteza, enfrentando o inimaginado.
Além do cenário tártarico, personagens pantagruélicas e aromas mórbidos,ali viajava a História, embaúlada para se transformar.
Era exatamente a fermentação de uma nova dimensão de existir, a vinda de uma corte da Europa para as novas terras, que o mundo nem sabia que tinha.A corrente da 'Cultura Humana',finalmente se estenderia por toda a superfície da Terra.
E olha, que os europeus que se viram nessa missão não pouparam esforços no sentido de domesticar os incultos executores de tudo,aqueles que garantiram o sucesso da empreita, pois sobreviveram a todas as brutalidades e construíram o novo mundo, onde a 'civilização' viria encenar suas novas tramas.
Agora estamos em vias de presenciar outra era de expancionismo e grandes navegações.
A coisa aqui está ficando cada vez mais feia, o ser humano já conseguiu destruir quase tudo,já inventou todas as formas de explorar o ambiente e as pessoas.
Os americanos, desafiados mais e mais deslavadamente,com gente se aventurando a bombardeá-los e a anunciar-lhes que não seguirão seu autoritarismo, já estão se preparando para espirrar fora e tentar novos domínios.Pode parecer ficção,mas os fatos já estão aí, se repetindo para todos verem.Incluam-se as ameaças de auto-destruição do próprio planeta, ressentido das agressões produzidas pela espécie humana.
Sem a mesma urgência da partida portuguesa,está se preparando a invasão do espaço sideral,com muita riqueza escorrendo nestes projetos,a despeito do resto da humanidade,em condições de velha miséria, para sanar a qual os governantes sempre alegam não dispor de recursos.
Em breve será possível viver em belíssimos condomínios na Lua.E nem será preciso dos tenebrosos navios-negreiros para arrastar as pessoas que trabalham.Serão explorados robôs.Tudo já está sendo devidamente preparado.
Pode parecer novidade, mas nada é novo. A história se repete descaradamente,só parecendo dissimulada devido à ignorância da humanidade.
Desta vez, irão sózinhos,e quem não puder financiar sua viagem ficará para roer o osso deixado, e os que partirem continuarão podendo não fazer nada e terem servidores: lá por robôs e aqui pelos que não pensaram em nada disso antes.
A vantagem dos robôs é que só pensarão mesmo, naquilo para o que forem programados,não criarão revoltas nem escolas-de-samba.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Próxima Presidente

O problema agora é o amanhã sem problemas. O caminho a seguir é claro.
Mas, sempre o perigo espreita nas veredas. tudo pode acontecer,surgindo assim o suspense.
Temos que escolher um novo Presidente, decidir como é que queremos que as coisas sigam em nosso país, e tudo indica que o povo já sabe enxergar onde está o mel.Mas,o suspense surge devido às surpresas, que também recorrem na momento das escolhas do povo.
Se o raciocínio for errado,não será só o tempo de um mandato,o que teremos de atraso.As conseqüências podem se estender, configurando, ao longo do tempo,um muito maior retrocesso do que revelem as aparências.
As aparências, aliás, são um ponto-chave, na formulação de um correto raciocínio acerca da escolha a fazer.E digo retrocesso, tendo em vista a situação atual do país,da sociedade e de cada um.
O Brasil progrediu, cresceu.Melhorou sua produtividade, e fez-se respeitar entre as nações.Mas,os degraus subidos ainda não levam ao alto da escada. A hora é de seguir em frente, continuar, e não, de forma alguma,retroceder. Deve-se ter em mira o fururo.
Voltando às aparências,é bom lembrar que para muitos cidadãos brasileiros,ainda é a imagem,a única informação que se apreende dos candidatos aos cargos públicos.
Temos inúmeros casos de indivíduos que usaram a posição política para a prática de crimes, foram denunciados, ficou notório e comprovado que tinham infringido a decência,passando a população para trás, e ainda assim, se candidataram e foram eleitos.São os fantasmas das campanhas,que seduzem e enganam.
Quando se fala de um político e anuncia-se sua formação como médico ou engenheiro ou advogado, por exemplo,quer-se que o povo entenda aí indícios de competência e integridade.Quando se vêm aqueles homens em seus ternos em tom de azul, engravatados,mechas brancas na cabeça,poder-se-ia supor seriedade,rigor, honradez... Mas é aí que mora o perigo!
Os fatos reais acusam, indiscutivelmente, que uma coisa nada tem a ver com outra.Os elegantes senhores do poder têm incorrido em duas infrações gravíssimas: inépcia e concupiscência.O terno azul pode dar a impressão de probidade, e iludir o incauto e mau informado eleitor.
Há que se ir além do curriculo, já que os doutores que têm se perpetrado no poder,e dado vergonhosos exemplos de libidinagem e banditismo são homens de paredes forradas de diplomas.
Não tê-los não fez falta alguma a Luis Ignácio 'Lula' da Silva,no exercício de seu brilhante mandato,embora ele não tenha podido escapar do terno azulado.
Valeu a ele sua visão do mundo,sua consciência do que é ser escravizado e explorado.Ele conhecia os verdadeiros interesses de quem nunca conheceu privilégios, de quem faz de fato a riqueza e é escorchado dela.Demorou a alcançar o objetivo, e a desvantagem de não ter o tipo caucasiano do concorrente nem o enchimento de nomes de família. Era um Silva. Sai honrado para os livros da História como o maior Presidente da República do Brasil.
Mesmo assim, muitos gostariam de voltar no tempo.Recriar as velhas ciladas...
Nossa próxima escolha deve recair em alguém que tenha estes mesmos precedentes, que tenha causas e esteja nesta mesma luta pela dignidade dos indivíduos,pelo bem-estar de toda a população e que consiga compreender as relações de causa e conseqüência das ações,nas dimensões reais de abrangência que alcançam. Já não podemos sustentar obras faraônicas para perpetuar nomes de familiares de coronéis, que esvaziam cofres,acabam virando moradia ao povo miserável e provocam inundações nas cidades.
População, ambiente, obras,políticos e dinheiro público são um eco-sistema, a harmonia está no equilíbrio, não podemos permitir a invasão de predadores para não sermos devorados.
Mais que currículo, um candidato adequado a nosso tempo deve apresentar uma história e o eleitor deve avaliar o perfil, atendo-se às atitudes do cidadão.
Não podemos voltar atrás.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Louvores à Beleza

Sempre se pergunta qual o elemento mais importante dos desfiles das escolas-de-samba.Há unanimidade quanto a ser a bateria a essência da escola,sine-qua-non do desfile.
Outra discussão,que morre e ressurge é a condição de a Rainha-da-bateria ser uma celebridade ou atriz,que surge de repente,sem qualquer contexto com o momento, a não ser a oportunidade de estar em evidência, com projeção em todo o mundo,num lugar glomoroso,que é sonho de qualquer mulher: o de Rainha,admirada e invejada.
Esqueçamos as 'paraquedistas' e vamos acabar com polêmicas: a bateria é o coração, as baianas são a alma,mestre-sala e porta-bandeira são o rosto, a velha-guarda é o esqueleto,a estrutura,todos importantes como os outros tantos não citados,mas o corpo é o da Rainha. Ela é tudo!Tudo de bom que a escola pode mostrar como símbolo de vitalidade, energia,garra e ainda encanto, sedução e graça. Ufa!
Diferentemente das oportunistas, as Rainhas vivem para sua escola, convivem em sua comunidade,preparando-se desde muito cedo para o seu momento de glória, quando ela é a estrela maior, que atrai todos os olhares e induz a sonhos...
É no rebolado da Rainha que está todo o segredo, todo o mistério desta magia contagiante, que é o desfile de uma escola-de-samba.
Em sua essência, o Carnaval é a festa da vida, um louvor à fertilidade, garantindo que a vida vai continuar e ser feliz.
Fácil entender o realce desta figura magnética e a cobiça por estar neste lugar.
Então, a dança da Rainha deve distribuir graças,centelhas de desejo, que farão o incêndio da vida.Novamente, não estou falando das malabaristas, centradas em sí e nas imagens que possam produzir atravás das câmeras dos fotógrafos, os zangões dessas abelhas...
Falo das meninas brasileiras, que aprendem ginga, de pés descalços,no terreiro ou na areia, e se bronzeiam na laje,ainda que,se bronzear, elas nem precisem.Falo dessas moças douradas,loucas de curvas,naturalmente dengosas, que sabem muito bem que, além de cartão de visitas da escola, e de todo glamour que envolve o cargo,uma Rainha tem uma responsabilidade muito maior, quase invisível, entranhada que está no aperto dos couros,no descer dos braços, no estalar das baquetas.
Uma rainha é o rítmo. Ela dá conclusão a todo o trabalho dos músicos, e é a baliza onde o batuqueiro,que chega aos céus no delírio da execução,vai ancorar-se e reencontrar-se,de volta ao chão. E ele duvidará de que não está no paraíso, diante de uma verdadeira deusa encarnada, cheia de doçura nos gestos,exuberância das formas,e pura tentação no sorriso e no olhar. A simbiose entre Rainha e batuqueiros e o próprio batuque, fazem ver que, mais ainda,se a bateria é o coração, a rainha é o sangue que esquenta e quase faz explodir milhões de corações.
Salvem nossas Rainhas!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Jesus ainda carrega sua cruz

A passagem de Jesus pelo mundo é indubitável, apesar da falta de 'provas' de sua existência. Jesus nunca escreveu nada, e o que disse ou fez são histórias contadas por outros.Indubitável pela força dos relatos e pelos efeitos que ainda servem, senão como modelos, ao menos como referências a inúmeros movimentos atuais.
É muito importante buscar e definir claramente o que foi exatamente pregado por Jesus, já que ele foi líder de um movimento político de libertação, que muito pode nos orientar, e porque ele foi usado como bandeira, por outros movimentos: para alardeá-la, os que dela se serviam, para apedrejá-la,os que nela enxergavam ameaça.
Há que se apurar o verdadeiro cristianismo.
Eram comuns os profetas e visionários, magos e sábios de todo tipo, circulando pelas cidades da Antigüidade e pregando a vinda de uma salvação.
Grupos diversos se formavam, seguindo mestres, que representavam para a gente comum,um contato com alguma dimensão superior, mas também um elo de esperança de dias melhores. Lembremos a miséria e a ignorância predominantes. A brutalidade se expressava nas relações cotidianas.Os soberanos exploravam de tal forma a sociedade, que quase igualavam escravos e senhores.
Religiões antigas, em decadência,mas ainda vivas,tentavam sobreviver, mesmo perseguidas.Pela guerra,povos assenhoreavam-se de outros povos, impondo língua e costumes estranhos, que se sobrepunham.
Estar no poder era estar numa corda-bamba e qualquer manifestação de oposição podia custar a vida.Ansiava-se por libertação das condições precárias.
Em meio a tal estado de opressão, viveu Jesus o seu destino.
O destino de todo aquele traz uma verdadeira luz ao povo, o fogo para erguer-se e reencontrar a dignidade.O destino dos que insurgem-se contra a tirania e a concupiscência dos poderosos,e lutam pelos direitos da massa.
consta que Jesus dizia as seguintes palavras-de-ordem:
"Amai-vos uns aos outros", corretíssimo, quando se almeja que os aderentes de um movimento sejam leais à causa comum, não decaindo no egoísmo,princípio de dores alheias.Não se corrompa, pois você também sairá roubado.
"Crescei e multiplicai!", já que seus seguidores eram fracos em número e o sucesso daquele movimento dependia justamente do máximo de aderências. A multiplicação das idéias de libertação pelo reconhecimento da igualdade humana, garantiria a atitude de não aceitação do jugo por outros homens, que se auto apresentavam como superiores e até divinos.Estas palavras, talvez as mais gravemente deturpadas,foram reinterpretadas de forma bem chão, num sentido carnal, por ser o nascimento de novos servos de importância capital para o imperialismo propugnado.

"Só há um Senhor, que está no céu." Nada mais claro, para implantar-se
a negação dos reis, que viviam entre a luxúria e a violência,a custa da escravização dos povos.Era uma chamada universal.
O movimento foi poderoso.Mas, foi traído.Jesus não conseguiu seu intento,não salvou a humanidade, que,muito ao contrário, afunda-se mais e mais na servidão cega a valores e crenças obscuras e em práticas opostas àquelas pregadas pelo nazareno, embora muitos se digam cristãos. Ele não logrou o intento, mas deixou a fórmula para alcançá-lo e cumpriu o destino dos heróis: ser apontado, perseguido, traído, capturado,torturado e morto.
Ainda hoje,isso é assim.
O mais triste, é ver que depois de derrotado, Jesus viria a servir, com seu pensamento sublime,como panfleto para campanhas totalmente avessas às suas diretrizes,numa condenação bem mais dolorosa que os cravos de ferro.
Jesus foi apropriado, virou mito e foi desfigurado, agora pelas mídias de todas as épocas,e é a pedra em que se amarram os submissos, e a que se quer amarrar os iluminados, para que se submetam.
Jesus virou garoto propaganda para venda de produtos diversos e chamariz para explorar ingênuos e sustentar gente trevosa.
É compreensível todo o mistério que se desenvolveu sobre o nascimento de um Salvador, ou a mística com que revestiram sua imagem.Havia interesses imensuráveis.
Difícil é ver tanta gente enganada.O Cristo, vencido, a liberdade, adiada.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quando será?

Desde que nasci, notícias de enchentes são comuns em São Paulo. Todo ano.
Uma chuvarada e pronto. Destruição, prejuízo.
E, como tudo nesta cidade, crescem também, a cada ano,a quantidade de pontos sujeitos à inundação,áreas de risco,a quantidade de gente desesperada,as medidas que 'serão' tomadas e o caradurismo dos administradores que, há séculos, manifestam sério interesse em sanar o problema, sempre que a cidade se vê alagada,para depois não fazerem nada.
Curioso é lembrar que em São Paulo está a Politécnica da USP,escola disputada a tapas por 'sortudos' do mundo todo. Saem de lá o que há de melhor na área.Os engenheiros preencherão vagas nos melhores empregos disponíveis.Principalmente os cargos públicos.
Não bastasse a inépcia dos políticos, ajuntada á ela a criatividade de nossos peritos,temos o que vemos:
Uma vergonha!
Agora, incrementadas pelas mudanças climáticas, as enchentes em São Paulo pipocam de todo lado.
A cidade mais rica do Brasil.
A desculpa é sempre a mesma: não há vazão para a água.
Canos não deram conta da demanda.A chuva foi demais...
No entanto, as obras continuam;-'A cidade 'não pode parar1'...
Pistas, umas sobre as outras,lotadas de carros,muitos prédios, túneis,viadutos e condomínios fechados. Ninguém percebe qualquer relação com possíveis desastres futuros, envolvidos com as obras. E o planejamento?
São arquitetos, engenheiros e políticos unidos numa sinistra missão.
Corporificar o poder de um sistema, representado pela metrópole,empregando as mirabolantes verbas que, para isso, o sistema dispõe.Uma fortuna chamada erário público.
É um' pega para capar', do qual, nem sempre, quem sai com a 'parte do leão' é o mais competente. E, vamos empreender obras!...
Depois das enchentes, só se ouve que o local era inapropriado, que algum esquema falhou... Como é que ninguém vê nada antes?
Os nossos engenheiros, talvez embriagados pelo bucolismo dos tempos de faculdade(as folhas secas caídas no gramado, se prendendo aos cabelos desgrenhados,emoldurando jovens sorrisos da moçada que brinca,deitada entre as árvores, namorando... É lindo! Você precisa visitar a cidade universitária!)...talvez daí lhes advenha a 'cuca-fresca',e todo mundo sabe que é melhor se preocupar com concursos de avioezinhos-de-papel ou terapias de bem-estar,e daí tirar as idéias para esenvolver projetos de aerodinâmica, do que 'encucar' com coisas que só estressam e envelhecem!
Sim, os céus tem 'forçado a barra' ultimamente: chove forte, todos os dias,há quase um mês, mas os gastos do prefeito com campanhas publicitárias de sua gestão já chegam a 100 milhões, enquanto as verbas para limpeza pública são cortadas.
Mas, todo bolo tem que ter um fermento e neste caso é a imundície do povo.
Um povo que vem buscar,justamente nesta cidade,um sonho de viver como rei,que se atraca com a idéia de estar, aqui, no primeiro mundo...
O povo consegue fazer muita sujeira e largá-la, relaxadamente, nos lugares mais improváveis.Não há reflexão.Há um deboche mórbido.
A 'linha-branca',já no primeiro trimestre,deve alcançar índices inéditos, com a reposição de mobílias, de parte dos flagelados,assim que eles puderem dar um novo endereço e entrarem em novas 'prestações'.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Como ficar leve de corpo e consciência

Ao acordar, tome água.Antes de mais nada.Respire fundo. Relaxe.O que você sente?
O dia começou e há vários afazeres.Seu corpo deve ser abastecido para realizar as tarefas a contento.É uma necessidade.Você precisa de energia.
As 'sugestões' vêm do próprio corpo,como solicitações deste ou daquele tipo de alimento,mas é a mente que deve dirigir todos os processos de escolha,até você sentar-se para tomar seu café-da-manhã.
Na primeira refeição é que, de fato, deve-se procurar mais substância, não havendo qualquer proibição,mas você deve saber o que está fazendo, o que está comendo.Você deve comandar o seu corpo.
Além disso, aquilo que você comer vai determinar muito de como você será em suas relações com o mundo.
Não só fisicamente, mas no modo de ver a vida, de pensar as coisas.
Já ouvi alguém dizer que 'quem não come carne, fica bobo'... Talvez, não revelar agressividade deva causar estranheza em alguns. Talvez a delicadeza esteja fora de moda.
A moda, aliás, que em todas as épocas,leva principalmente as mulheres,a situações extremas.
Mas, não podemos esquecer da aplaudida 'barriguinha-da-prosperidade', que os homens cultivam com a felicidade de quem fica rico.Fingem não verem nada,e quando não dá mais para negar, agem como se realmente adorassem.
Só que, parece mais fácil desfazer uma fortuna,que diluir a dita barriguinha,própria dos homens da classe-média,logo que casam.
Bem antes de casar,já as mulheres sofrem com o dilema que as põe entre a salada completa e a cumbuquinha de feijoada.
Há uma máquina poderosíssima, movida por forças do bem e do mal unidas, dizendo que a menina deve ser uma Gisele,lânguida,dinâmica,desapegada...Frugal.
Por outro lado, no caminho para a padaria, há a pracinha,a porta do bar ao lado da borracharia,cheio de homens jogando bilhar.
É um outro mercado, em que as mulheres,já pela natureza feitas fora do padrão de prestígio estabelecido,saem desorientadas a fazer o que manda a barriga, quero dizer, o coração, na famígera corrida por seu macho.No mínimo,servem as cantadas,os assobios... ficam todas cheias.
É que existe um conceito de 'mulher vale-quanto-pesa',agora fortalecido pelos repetidos casos de anorexia e bulimia levados a público,contra o poder das modelos.Prega-se que 'homem gosta é de carne','mulher desejada e bem sucedida é aquela que consegue logo seu homem'.Assim, vão as mulheres à deriva,legando aos filhos as mesmas crenças e os mesmos vícios alimentares com que sonharam por toda a vida.
Há crianças que entendem,muito tenras, que é prestigioso ter 'enjoamentos' e receber atenções especiais,que persistem não comendo certos alimentos, quando adultas,ao quê,dizem: 'nunca gostei mesmo,igual minha mãe'...
De qualquer modo, o segredo é não sair da forma.É bem mais fácil.
Se você é magro, tome um copo( no começo)de água fria em jejum;se quer perder peso, um copo( ou mais) de água morna, antes de começar a introduzir em seu corpo, aquilo que deve satisfazer necessidades concretas do funcionamento do corpo e da mente, em vista das atividades que você executará.
O alimento deve ser valorizado em função de suas propriedades e dos efeitos que possam produzir.Não se deixe enganar pelos sentidos.
É preciso aprender a sentir corretamente os alimentos, suas cores, seus perfumes,seus sabores e texturas.Há que se viver integralmente a experiência de saber cada ingrediente.Sem pressa.
Comer por comer é optar pelo 'mais prático'e ir pelas aparências.
Quando se está em situação econômica melhorada, tende-se a achar,que se precisa consumir coisas mais caras.
Infelizmente, a aparência de quem come, nem sempre fica tão agradável.
Mas a questão realmente não é de aparência, é de saúde e a solução não vem em cápsulas, nem se alcança em acadêmias de malhação.
Depende de educação, que deveria ser dada, e de consciência, que se precisa ter.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sacrifício de animais

O argumento maior,que sustenta o preconceito e a discriminação religiosa contra o candomblé e demais religiões de matriz africana, no dizer de agora, as religiões dos negros,dizendo bem.
Quisera,dispusessem os negros devotos, de tantos animais para oferecer ritualmente aos seus deuses, quantos são,estes sim, sacrificados,tirados de sua rotina natural, para satisfazer prazeres e necessidades vitais de toda a sociedade,todos os dias,sobre a mesa.
A palavra 'sacrifício' precisa ser corrigida politicamente, tanto quanto 'escravo'. 'Escravizado' é termo mais próprio à maioria dos casos em que se usa o adjetivo, sintético.A voz passiva expressa mais claramente a realidade, já que inclui uma indagação.Quem escraviza?
'Sacrificar' soa pleonástico,denunciando a total ignorância dos fatos,nenhuma noção daquilo que se está atacando.E cegueira absoluta às soluções costumeiras para resolver questões sobre como matar a comida para a família.
Nas religiões que guardam modos africanos, quando se pode ter outro ser vivo para alimento do próprio corpo(desculpando-me agora um pleonasmo meu), este ato deve ser ritualizado. O animal é honrado e não deve sofrer. Não deve padecer dor.O sangue deve ser aparado de forma respeitosa. As partes de seu corpo, que não serão consumidas, recebem preparação especial,e estas são as oferendas. As partes que se come, são preparadas e servidas a uma comunidade, que festeja.
São costumes antigos,de quando não se ia às prateleiras do supermercado e se encontrava qualquer tipo de carne,à disposição,se comprava e se comia, sem qualquer preocupação com a origem, ou com como foi assassinado o ser, ali, congelado.
As pessoas comem carne todos os dias. Muitas têm nisso o termômetro de seu bem estar.Muitas dizem: 'sem carne, eu não como!'.
Para isso são escravizados muitos milhões de animais.E, na hora de matá-los,forçam-nos a uma fila do terror,dão-lhes seguidas porradas, humilham-nos, fazendo com que produzam pérfidos venenos,que penetram cada célula de seu corpo, que ficará muitíssimo tempo em geladeiras, até que um dia,seja posto em seu prato.
A Arte desenvolvida há várias gerações,de pedir perdão por tirar uma vida, de agradecer pelo alimento encontrado,prepará-lo como um ato sagrado e dividí-lo com o máximo possível de gente parece muito laboriosa.Incomoda mentes práticas,mais predispostas a logo desclassificar aquilo de que não entendem nada.
Rituais em que se costumam incluir oferendas de animais são cada vez mais raros, até porquê, muito se vem fazendo para inviabilizar costumes e tradições vindos da África. Há muito tempo.
Há, entretanto, grupos religiosos com crenças e costumes de outras origens,que criaram um sincretismo todo próprio,ao misturar referências da magia negra,do catolicismo,da magia cigana,com práticas mal aprendidas das religiões que o povo negro já praticava aqui. O Demônio passou a chamar-se Exú.O mundou ficou entre o céu e o inferno...
Nada a ver com negros nem com o Candomblé, de origem africana.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Pai do Rock

No princípio era o Frank Sinatra, um paletó bem cortado,cabelos engomados, voz muito bem colocada e jeitão de moço bem comportado.Coitado!
Quando explodiu Little Richard, muita gente viu,que era o fim do mundo.
Mais uma vez a Igreja Católica apontaria seu dedo,querendo encontrar ali o rabo do Diabo.
Na verdade o estrondo já vinha de uma explosão,que já tinha abalado o gueto. Já era a nova onda há um bom tempo e deixava claro que era puro poder.
Richard definira, em seus shows no gueto,uma nova música, o Rock, e além de estabelecer novos limites para a execução da guitarra, para como cantar e para o mis-en-cene,transbordou seu comportamento enlouquecido para o povo, que se via tomado de uma mania, e começava a reproduzir no comportamento social uma nova maneira de se relacionar com o mundo.
Era uma nova era.
O fim das vozes sedosas, apaixonadas e dos galanteios espirituosos.
Nada do comedimento do fox-trote, nada do chove-não-molha dos slows.
A juventude parecia endiabrada. O rapaz jogava a moça para o alto, e ela ficava de cabeça para baixo e pernas para o ar.Só podiam parar no Inferno...
Mas todo aquele frenesí não gerava somente polêmica e protestos da sociedade apavorada. O rebolado desnorteante, os gritos e desvarios no meio da música eletrizante,tudo aquilo rendia muito dinheiro.
Os artistas negros tinham as costumeiras dificuldades para descolar um espaço em gravadoras e casas de shows do lado dos brancos, e era lá que estava o grosso do dinheiro.
Mas Little Richard fez ecoar seu sucesso de tal modo, que chamou a atenção dos produtores brancos. "como fazer para a população branca consumir aquele negro descomposto,esquisito,espalhafatoso,exagerado,que seria um péssimo exemplo para a promissora juventude americana?"
A história daquele rapaz não foi mais tranqüila que o rítmo que ele lançara. Rivalidades,competição, puxadas de tapete,adversidades que poderiam tê-lo calado.
As gravadoras do gueto estavam faturando tudo o que podiam,as casas onde os negros podiam entrar não davam conta do público, que as lotava todo fim de semana, onde quer que ele fosse.
Pois os produtores brancos trataram de trabalhar, e acharam aquele que poderia produzir o mesmo efeito que Little vinha causando.
Elvis Presley.Perfeito!
Bonito, saudável, uma voz poderosa e aquela gana natural de um rapazola enfastiado de uma vida militar e dos gospels sentimentais do coral da igreja, diante da possibilidade de realizar todos os seus delírios de artista.Um contrato. Shows,sucesso,fama e dinheiro.Não deu outra.
Ele foi lá e caprichou.O topete,a jaqueta,o rebolado, o susto. Fez tudo direitinho.foi aclamado o Rei do Rock.As produtoras se deram bem.Ele,talvez,não tenha encontrado tudo como sonhara.
Ao redor do astro maior, que é Little Richard,uma miríade de grandes estrelas viria formar a constelação do Rock'n'roll: de Michael Jackson e Prince a Jimmy Hendrix ou Raul Seixas. Todos seguindo aquela cartilha da irreverência,do absurdo,do enigmático,do chocante e do sensual,tudo junto.
Não seria a única vez que um artista seria produzido para preencher uma lacuna mercadológica.
Pelas mesmas questões surgiria Daniela Mercury, no Brasil,para fazer frente ao movimento estrondoso que surgiu no Curuzú,Salvador,e que despontava com um grupo negro, a Banda Reflexus,em que a vocalista negra não conseguiria arrancar a grana da classe-média do sul do pais.O sambafro virou axé music.Mas, esta é uma outra história...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Carnaval, pela continuidade da vida

O Carnaval é a festa mais importante do planeta. Sua origem é controvertida,talvez por ocorrerem manifestações em todo o mundo,em datas similares,desde épocas remotas.Mas, é comum a todas as culturas,adquirindo significados e formas próprias a cada costume.
Fala-se de uma possível origem indiana, derivando do Holee uma festa em que as pessoas vão às ruas, levando grandes quantidades de pós de várias cores e aromas, para atirarem, umas sobre as outras, numa brincadeira muito divertida.
Há quem veja nas Saturnálias ,da Roma Antiga, o princípio desta festa comovente e pertubadora.Lá, entre as muitas cerimônias em honra a Saturno e aos outros deuses,constavam festins fartos de vinho e orgias.
Em Veneza o Carnaval é tranqüilo,pois as pessoas simplesmente passeiam por ruas e praças, exibindo trajes riquíssimos e as plácidas máscaras,guarnecidas de esmerados arranjos,que conferem um ar de mistério a quem usa.Alguns se comprazem apenas com admirar as criações extravagantes,personagens que passam e somem na paisagem,e atirando-lhes confetes e serpentinas.
Em Paris, além da fantasia luxuosa e da máscara, que aqui pode ter um cabo,para ser segurada na mão,e cobrir ou descobrir o rosto a qualquer momento, realizam-se bailes suntuosos,tocados por uma orquestra,em esplêndidos salões, especialmente decorados, onde o ambiente ganhava um clima libidinoso.
Na Alemanha, existe um serviço médico especial para atender as mulheres que ficam grávidas nos dias do Carnaval.
Em Portugal,as brincadeiras eram chamadas de entrudo,e as pessoas evitavam sair de dentro das casas,tais os riscos a que ficavam expostas.Grupos de baderneiros,seguindo um tambor, o zé-pereira,tocado apenas para chamar a atenção, sem preocupações de ordem musical,munidos de variados ingredientes, quais fossem, farinha, ovos, corantes,óleos,águas sujas e outros,saíam pelas ruas em grande alarde à procura de vítimas. Ao topar com algum incauto,surravam-no e passavam a atirar sobre ele todas aquelas coisas.
Mas, quem não ia para as ruas,participava da festa espreitando, do balcão,no primeiro andar,algum passante, no qual despejavam as águas servidas da casa, incluindo-se as jogadas diretamente dos penicos.Nos ataques, usavam-se chiringas cheias de urina, capazes de atingir a vítima, mesmo em fuga.
Todos estes costumes foram trazidos para o Brasil,onde o nome entrudo foi depois substituído pelo nome do tambor que se batia.
Os zé-pereiras eram grupos menos agressivos,nos quais já começavam a despontar as influências africanas,de forma que começa a haver maior preocupação com dar um rítmo ao toque do tambor e a usarem-se músicas para animar as brincadeiras.
Na Nigéria,entre o povo Yorubá,ocorre um grande festival,chamado Ifé Gueledé,em que, enquanto procede-se ao cumprimento dos ritos e oferendas às deusas da fertilidade, para que garantam a saúde e o sustento para toda a comunidade, máscaras são confeccionadas e devidamente consagradas.
A saída das máscaras organiza-se em forma de cortejo, que segue pela cidade, parando diversas vezes para que se realizem danças e se apresentem canções, elaboradas sobre um tema buscado nas experiências vividas no ano que termina.Os artistas,vestidos de mulher,têm a oportunidade de alegrar a todos com seu talento e graça, e a comunidade se diverte, avaliando as apresentações, cantando e dançando em comunhão.É um momento muito importante,em que nada pode sair errado, para não desagradar as deusas da vida e em que se renovam os laços de fraternidade e as forças para enfrentar os desafios do novo ano.
Vemos aí a estrutura original do Carnaval brasileiro,e seus desfiles deslumbrantes,em que, no rítmo do samba, pode-se saborear a mestria dos compositores e dos passistas.
É certo que nosso Carnaval apresenta diversas influências e uma evolução gigantesca,mas todos sabem que,na alma do brasileiro, o ano só começa, mesmo, depois de cumprido o sagrado Carnaval.

domingo, 24 de janeiro de 2010

História da água, nossa vida

Uma das mais belas histórias que aprendí, muito rica de significados e muito importante, é a história do surgimento da água, de acordo com a tradição Yorubá.
O povo Yorubá é habitante de boa parte da Nigéria, onde está ainda, mas esparramou-se pelos países dominados por europeus, onde, mesmo sendo escravizado, dominou culturamente.Brasil e Cuba, por exemplo.
A força desta cultura está não só na beleza de seus mitos, mas na coerência interna deles.
Segundo os yorubás, há um Deus imensurável, senhor da existência, ao qual não se invoca, não se rende culto,não se pede ajuda e nem perdão.
Òlorún, senhor do infinito, ou Òlodùmaré, senhor dos destinos, são atribuições àquele Deus,mas, não devem ser banalizadas, sendo uma referência,para momentos apropriados.Não se figura este Deus em imagens.
Òlorún cria diversos deuses de si mesmo, e orienta-os a proceder à criação do Universo.Os deuses da criação são puríssimos, derivados como eram do ser supremo. Todos eram muito semelhantes em sua essência, transparentes como cristal,diáfanos como nuvens, e usavam seus poderes combinados, para realizar sua tarefa.Este grupo de deuses é chamado de Babá-funfún, os 'Papais do Branco',e seus devotos vestem-se de branco em sua honra.As oferendas a eles são sempre compostas de ingredientes brancos.
Estes deuses 'cristais' criaram todo o universo e a vastidão do infinito.
Mas, sua obra não chegava a se concluir, já que, sendo a energia deles de caráter único, não permitia, num certo ponto, prosseguir se recombinando e produzindo elementos novos.
Diante do impasse, os Babá-funfún se reúnem e decidem resolver a questão do seguinte modo: juntos, reunindo todos os seus poderes, criariam aquele princípio que faltava para desencadear o ápice de sua obra.
Projetaram toda sua luz no nada,havendo como uma maravilhosa explosão de energia, e da imensidão do Universo surge Òxún,a primeira mulher a ser criada.Ela é a água-doce,o princípio que faltava.
E era Òxún muito bela e atraente, de maneira que atraiu o próprio criador.
Òrúnmìlà, um dos babá-funfún,que era o Sol luminoso,o olho do céu, que tudo vê,apaixona-se completamente pela esplêndida criação.Os olhos do céu só querem refletir-se em Òxún.O Sol só brilha onde ela está, só brilha para ela...
Assim, a água-doce, escorrendo sedutora pelos regatos, recebendo o calor da luz de Òrúnmilá,refletia em sua transparência brilhos dourados.Era o encontro dos dois princípios, sendo que, só depois dela surgida, foram diferenciados como masculinos os velhos deuses.Agora, com o encontro do masculino e do feminino,pode-se criar várias outras deusas, as Ìyabás, Mães poderosas, todas relacionadas com águas de rios, e capazes de gerar a obra maior na criação, que é a vida.
Por isso é a nossa mãe maior, a Ìyá Lodé,é Òxún,a água cristalina, origem de tudo que é vivo, e elemento essencial de toda a vida.Seu cetro traz a figura de um pássaro, símbolo de seu poder.
Os senhores do branco descansam nos céus como lençóis brancos, circundando e protegendo Òxún e seus filhos no mundo.
Poderiam ser comparados, com toda a licença, com a camada de ozônio, envolvendo a Terra.
Segundo o mito,Obatalá é o Rei que guarda o Alá, o pano branco que cobre o mundo, e que é a garantia da continuidade da vida. Muito sisudo e apegado a sua pureza original,o maior de todos os babá, o Òrixá nlá, não admite que lhe sujem o Alá, reagindo brutalmente caso alguma impureza o macule.
Ao que parece, os 'buracos' na camada de ozônio indicam que já maculamos o Alá... Obatalá já deve estar bem zangado, e já deve ter começado o trabalho de reparação. Mas a primeira a entrar em risco é Òxún, a água que pode evaporar-se e voar, como linda pomba, branca como uma núvem,para o infinito.
Sem ela o mundo perderá toda a beleza e a graça: não haverá mais espelhos para o Sol se refletir, não haverá mais vida...

Vítimas do capitalismo cego

A realidade sempre pode ser mais terrível do que se pode supor. Estão aí os haitianos para confirmar.
A tragédia,que acompanhamos diariamente pela televisão,não é um fato isolado. É apenas um clímax de uma história macabra.
Quase mais grave que a história é o modo como ela vai sendo contada.
Quando o William Bonner anunciou que o povo do Haiti é, em sua imensa maioria, praticante do Vodu, 'uma religião muito parecida com o candomblé', primeiro fez uma ligeira pausa, mudou a expressão do rosto e o tom da voz.Discretíssimo, mas,nem tanto. Outro detalhe sempre destacado, sempre que se trata deste tipo de notícia, é a taxa de analfabetismo no país. Assim também ocorre com países africanos.
Diante de tragédias humanas, como as de Angola ou Ruanda, percebe-se que há uma tendência a procurar argumentos que justifiquem o ocorrido, como decorrênte de insuficiências da própria população, ou sugerir tratar-se de algum tipo de 'castigo'.Já ouví quem insinuasse, que a balbúrdia no Rio de Janeiro, entre a polícia e os representantes dos traficantes,deve-se ao Carnaval...
Não o terremoto, é claro, mas o caos em que se transformam as relações entre as pessoas.
Basta procurar a História do Haiti,de Angola,de Camarões ou da Nigéria e logo se saberá qual é o ponto comum a todas elas: são ex-colônias de países Europeus.
Há muito a Europa vem resolvendo seus problemas internos na base da bala, mas a fome, a miséria geradas por guerras,pestes, ou simplesmente pelo território reduzido e estéril, fizeram com que se arquitetassem outras saídas.
E eles foram, com suas armas, atacar, saquear e destruir outros povos, explorando tanto as riquezas da terra, como a força de seus habitantes.
Pior que isso, quando todos os recursos são esgotados, e já não há mais nenhum interesse, partem, levando tanto quanto tenham encontrado, e deixam aquele povo em situação de penúria e descontrole. Além da força bruta, é comum que recorram a um estratagema infalível:
Criam divisões entre a população, elegem um grupo,que seria o 'melhor',armam este grupo e pôem o próprio povo para se destruir. Estas divisões são sempre baseadas em alguma diferença que só eles apontam. É como dizer: 'quem não fuma é bom, quem fuma não presta!'. E deixar que os não fumantes persigam os fumantes.
Com o povo devidamente tomado dessa crença, resta sentar e assistir a desgraça.
Um terremoto pode ter qualquer explicação, mas a precariedade de tudo no Haiti,a seqüência insólita de governos, golpes de estado, queda de governantes, e conseqüentes transtornos,tudo isso pode muito bem ser esclarecido. Basta ler a História!
O Haiti, que já foi considerado a 'pérola'das Américas pela imensa riqueza que garantiu a seus depredadores,teve sua população original aniquilada com a chegada dos espanhóis.Os que não tombaram sob as armas, foram vítimas das doenças,as pestes que os europeus espalharam para várias partes do mundo.
Quando já tinham tirado todo o ouro, que era muito, deixaram a carcaça para a França, que, com africanos sequestrados por ela mesma,ou roubados por seus piratas a outros traficantes,fez florescer ali a cultura da cana-de-açucar.
O tratamento aos escravizados era brutal, como de costume, e os resultados eram delirantes.Uma riqueza sem conta toda transportada para a Europa.
Depois vieram os estadunidenses e completaram a orgia, financiando ditaduras assassinas para continuar explorando o país, e garantir o controle sobre o povo.
É comum que se transmitam estes fatos,com a deslavada mentira de que nunca houve reações contrárias,mas, o Haiti foi a primeira colônia a abolir a escravidão e a conquistar a independência.Em todos os lugares em que os europeus exerceram sua brutalidade, sempre houve resistência e luta, ainda que a desigualdade de forças fizesse da oposição um caminho certo para a morte.Sempre se dissimulam estas informações.
Hoje vemos as forças americanas tomando novamente conta do país...
A 'ajuda'deve ser criticada pela mesquinharia geral. Além de praticamente não fazerem vulto,visto o tamanho da calamidade, ainda criam situações de maior desespero na hora de entregar esta ajuda. Os mantimentos são atirados de avião,em lugares onde o pouso seria totalmente possível. Ou fazem o povo saber que há comida atrás de um muro, por exemplo,mas não distribuem.
Tudo, lógicamente, devidamente filmado.E correm o mundo as imagens das pessoas no extremo do desespero, atacando e saqueando as provisões.E completam: 'são analfabetos e praticantes de Vodu'
Há muito, isso é assim.
Até onde vai a falta de moral dos predadores?
O que mais hão de inventar para continuar vivendo da exploração dos outros?
Eles, os cultos, civilizados,do 'primeiro mundo'?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Gente idosa e gente velha

Com isso de politicamente correto, é preciso que se tenha muito mais cuidado, no momento de avaliar as coisas.Não é tanto avaliar o nome que se dá,mas, mesmo avaliar de que se está exatamente falando.
A palavra velho já foi muito usada como chingamento. Aplicava-se a inúmeras personagens,de forma generalizada, não estando relacionada com a idade cronológica da criatura.
Trata-se da criatura caturra,temerária, que, cheia de complexos, quer proibir tudo, a menos que seja feito da maneira segura, contida, que se fazia antigamente...
O cara preso no passado, nos antigos modos de entender as coisas,de fazer as coisas. Este era 'um velho', na boca daqueles que estavam sedentos diante da fonte, querendo saciar sua necessidade de experiência e de vida.
É de notar que os seres da 'terceira-idade', há um bom tempo vêm demonstrando, que o tempo e o volume de conhecimento não sobrecarregam o sorriso, a atitude desapegada, a espontaneiadde.Há muitos que parecem que melhoraram, quanto maiores foram as adversidades.
Temos, então que distinguir claramente as pessoas idosas das pessoas velhas.
E nunca é muito, enaltecer estes idosos brilhantes que continuam a revelar ímpetos libertadores,ajudando realmente aos presunçosos jovens, como é que é bom fazer.
Eles não impôem modelos, como é próprio das gentes velhas.
Esta velhice de que falo, é a que faz alguém perder o trem da história.
Lembremos do caso Geisy,que fere mais que os direitos da mulher,em que a Uniban,representada por pessoas cegadas pelas penumbras dos velhos conceitos,perdeu, com seu carrancismo, a chance de estourar na mídia, de uma forma completamente diferente.
Se apóiam a aluna, poderiam ter conquistado importantes simpatias. Mas entenderam que, em nome dos bons costumes das famílias, era melhor pinchar a ousada fora,e defender os filhinhos dos pagantes. Se deram mal.
Já, o comportamento da garota mostra que, naquele dia em que ela saiu de casa naquele vestidinho cor-de-rosa,ela não saiu para brincar. Estava pronta para ir às últimas conseqüências.Era tudo ou nada.
Não tomemos por mero despudor ou falta completa de noção. Ela sabia muito bem a que vinha.
E deu certo! Depois de aparecer humilhada, ultrajada, para todo o mundo, conquistou o lugar que ela sempre almejou,e a atenção que ela tanto buscava. Ela merece.
Pagou para ver, teve uma atitude 'jovem', e está sabendo articular muito bem a sua fama.
Pouco importa que seus trajes não fossem adequados para o ambiente acadêmico.Agora estarão muito adequados nos desfiles do Carnaval, justamente num momento em que vivemos tempos de 'mulheres-fruta'.ela está 'up-to-date'.
Triste ficou lá, para a reitoria da Uniban.
voltando aos idosos, três exemplos serão o bastante para encerrar este assunto.
Dercy Gonçalves, a própria irreverência, desafiando até o tempo com sua explosão de energia.
Cora Coralina,uma planta dessas que levam anos quietas, se concentrando, e só quando já são uma árvore frondosa, de repente carregam-se de flores e dão seus frutos,à farta, sempre em boa hora,mais doces do que se tivessem surgido prematuros...
E Hebe Camargo, atravessando décadas sempre radiosa, e cada vez mais encantadora, com sua simplicidade e alegria.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O que fazer com o cabelo?

Todos os dias, assim que despertam, as pessoas cuidam de sua higiene, de sua aparência e de sua alimentação,nem sempre, necessariamente nesta ordem.
E todo dia tem-se que dar uma forma aos cabelos, ou cobrí-los,num gesto que é tão banal, mas que envolve uma gama imensa de significados. Há até o clichê de que os cabelos são a moldura do rosto, para justificar a importância que se dá à forma que os cabelos apresentam.
Na arrumação do cabelo colocam-se não só os sinais que se quer que vejam, numa preocupação com o exterior,como profundas necessidades do mundo interior, que nem sempre se quer que note.
É aquela história da mulher negra, que alisa seus cabelos para parecer branca.
Mas os cabelos revelam sua identidade, sua tribo, e nessa tribo concreto-metálica urbana moderna, ainda procuram-se referências de origem e status no modo como se traz o cabelo.
Quando eu era criança, cabelos tingidos de louro, mal conservados, e por isso com raízes escuras, só as 'mulheres da vida' usavam.
Hoje,não só as mulheres, que ascendem algum degrau, tingem logo o cabelo de louro, como o homem, principalmente negros, quando sobem na vida, preferem uma boa parceira loura.É um mercado.
A aparência dos cabelos projetam uma identidade, que não é a que se tem, mas a que se gostaria de ter.Como se quer ser reconhecido e valorizado.
O homem, que, principalmente na cultura ocidental, é geralmente menos aparatoso, projeta na mulher que o acompanha o seu poder.
Desde há muito tempo, no interior da África, o cabeleireiro era figura respeitada.
Transitava, nômade, de uma a outra tribo, carregando variado equipamento.Ferros de formas diversas eram aquecidos em brasas, e usados no alisamento dos cabelos, que, assim, adquiriam a textura ideal para a montagem de modelos especiais de penteado que, além de incluir partes trançadas, eram guarnecidos de enfeites como folhas, sementes, conchas, ou outras coisas vistosas que se pudesse achar.Chamavam-se 'massunssus'.
Há, também na África, povos que usavam a urina do boi como descolorante dos cabelos, que ganham, assim, tons alaranjados.
Ou seja, é velha a intenção de se ficar mais bonito, modificando a aparência da cabeleira.E parece que já foi até mais criativa.
Ainda ando pelas ruas e encontro um séquito de Cleópatras de jeans,todas iguais, circulando com trejeitos que misturam timidez e provocação,sem se darem conta de que nem estão tão charmosas, pelo efeito artificial que predomina.
É a moda da chapinha, universalizada,que agride a estrutura capilar, mas, o que é pior,deixa muita mulher, que pensa que está linda, com uma aparência patética, pois é ridícula, mas é triste.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Perplexidade com o paradoxo

Tive uma formação católica rigorosa. Minha avó e minha mãe andavam sempre pelas igrejas,e sentia-me bem naquele ambiente de devoção.
Assim que aprendí a ler, peguei uma edição ilustrada da Bíblia, que fora de meu avô, e lí inteira.
Quando meus irmãos foram para o catecismo, fui também, mesmo com a idade incompleta, eu os acompanhei por todo o ano, copiando as apostilas a mão,com ilustrações que eu mesmo fazia. No próximo ano,fiz novamente,na idade certa,recebendo minhas lições mimeografadas pela catequista.
Fiz a primeira comunhão, e sonhava com o dia de minha crisma.
Com oito anos, um dia saí sozinho e resolvido: fui até a igreja e disse ao padre de minha intenção de tornar-me padre.Ele deu uma rápida olhada, e disse: -Você é muito novo para saber se quer ser padre.Espera até você fazer quinze anos. Então, se ainda quizer,volte aqui,e eu mesmo te encaminho.
Continuei lendo tudo que encontrava a minha frente,insaciável.
Saiu na revista Manchete uma matéria,com o título " Um dia na vida do Papa". Tratava-se do Papa Paulo VI.
Fantástico! Mostravam os aposentos do Papa, sua cama, seus tronos( já no fim da vida, não mais podendo andar, aquele papa era transportado por quatro homens, em um trono portátil).Descreviam sua dieta requintada,composta de delicadezas vindas de várias partes do mundo. O que se poderia encontrar de melhor e de mais fino.O guarda-roupas Revelava a opulência da Igreja Católica Apostólica Romana.Tudo era rebordado com fios de ouro.Inclusive os sapatinhos, sempre célebres...
Anéis e cetros valiosíssimos,cada um podendo matar a fome de um continente.
Alguma coisa intuitiva dizia-me que algo estava errado. Algo não tinha coerência.E aquilo tudo que eu estudara tanto,nas lições do catecismo? E os ensinamentos de minha avó?
Fiquei desnorteado e me sentindo traído.
Concluí que não era aquela a devoção a que deveria me entregar, pois contrariava totalmente minha noção de desapego cristão e compaixão humana.
Só me reencontrei,depois de um fato ocorrido na casa de minha avó, em meio a uma faxina que ela fazia em seu armário.Deparei com a certidão de casamento dela, onde lí o nome de minha bisavó: Esperança Fé da Caridade. Achei o nome curioso, e quiz explicações.
Minha avó explicou-me que aquele não era o verdadeiro nome de sua sogra.Aquele era o nome que deram a ela, quando chegou aprisionada da África . O nome original se perdeu.Valia o nome cristão que era dado: marcavam no negro, com ferro em brasa, a identificação de quem seria seu dono e lhe davam um nome bíblico; então,a criatura podia ser escravizada em paz.
Tudo me estarrecia, mas eu nem sabia articular a polêmica que se formava em minha cabeça.
Uma indignação vinha das arbitrariedades,e um encantamento,da revelação que
se afigurava. Eu era descendente de africanos. eu era descendente de gente escravizada. Eu era Negro!
Como ainda hoje, pouco ou nada se encontra sobre cultura negra,sabedoria africana.Mas eu buscava e continuo ainda buscando.
Há muito a ser revelado.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Musas

Houve um tempo, em que eu apreciava as revistas masculinas. Todas elas.Eu tinha quase quinze anos,mas tudo para mim ainda era novidade. Ao lado daquela vida arcaica do bairro,explodia para mim uma nova realidade. Começava a circular pelas ruas do centro da cidade.Era um menino totalmente inexperiente, crente que tudo era como meus pais pregavam... Mas ao meu redor,tudo se revelava muito diferente.
É que eu trabalhava numa agência de informações e notícias, que ficava num edifício da Avenida Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú.O dono se chamava Arthur de Bernardis Filho, e sua esposa era a Dona Priscilla, uma bela mulher.
Uma vez,em horário de almoço,indo em direção ao Viaduto Santa Ifigênia,ví uma mancha escura vindo em direção ao solo. Era uma pessoa que se atirou. Caiu bem ali, e num instante já tinham coberto o corpo com uns plásticos pretos.Um fio de sangue ia escorrendo em direção ao bueiro.
Seguí adiante, vendo que o povo já se aglomerava, que eu tinha que resolver umas coisas e voltar ao serviço.Ainda gritei para os curiosos: "Estão esperando o quê, que ele levante e saia andando?", mas o povo ia parando e ficando em volta, olhando. A praça do Correio era um lugar fantasmagórico, assombroso para meus quatorze anos. Era um centro da decadência, e a decadência que se via ali era extremamente crúa.Violenta até, pois a miséria levava as pessoas a extremos . Ví uma mulher velha e gorda, toda em andrajos, toda suja, bêbada, expondo os seios e abrindo as pernas, e soltando impropérios contra os apupos,vaias e risadas do povaréu que passava.Eu nunca tinha imaginado qualquer coisa parecida. Soube depois, que aquelas mulheres com roupas chamativas, maquiadas em escesso, que andavam pela praça, eram mulheres 'da vida'. Aquela desgraçada, que me fez parar, chocado, seria uma 'mulher da vida'velha e acabada. O centro de São Paulo era muito impressionante.
Na firma em que eu tarbalhava,chegavam publicações de todo tipo. Jornais minúculos, de quatro páginas, de lugares inimagináveis,e as mais importantes publicações de todas as capitais, e revistas.Ótimas revistas.
Eu era kardexista. Veja bem, nada a ver com kardecista, o praticante do espiritismo.
Antes eu trabalhei como arquivista, e o kardexista é um tipo de arquivista. Coisas do século passado, que não voltam mais.Eu anotava todas as entradas, em fichas na ordem alfabética, com uma tabela para marcar a data e a quantidade dos exemplares.
Era até bonitinho aquele armariozinho, com aquelas gavetinhas fininhas.
A sala era abafada, não havia circulação, e as pilhas de jornais produziam um pó, onde , mesmo assim, sentavam-se todos os office-boys, nos intervalos de suas saídas. Era um alvoroço. Na hora do almoço,antes que eles voltassem, eu aproveitava para dar uma olhada naquelas revistas masculinas. O que as diferenciava eram os ensaios fotográficos de nus, que estavam totalmente em moda, eram praticamente obrigatórios, e as modelos não eram qualquer pretenciosa pré-fabricada. Eram mulheres lindas, talentosas, famosas, consagradas,e muito populares.
Entre tantas beldades indiscutíveis, houve uma série especial, com algumas que tornaram-se célebres, pelo menos para mim,inesquecíveis.Algumas me parecem insuperáveis, apesar de as modelos atuais estarem perfeitamente na esteira...
Não posso esquecer Adele Fátima,Maytê Proença,Sandra Bréa,Bruna Lombardi e tantas outras. Grandes mulheres!
Mas, tem sempre uma, que é a preferida, a musa encantada, dos adolescentes sonhos. A minha é Sonia Braga. Sem precisar pensar.
Há um ensaio em que ela está entre uma cortina de seda branca, numa porta aberta contra a luz do sol. Poderia parecer a porta do céu, um paraíso de beleza e perfeição.
A mulher mais linda que eu já ví. Uma verdadeira deusa.Era a nova beleza que brilhava, e brilhava com esplendor.Tanto que ela teve que ir embora, lançar sua luz muito mais longe.Sua volta anda muito silenciosa, mas ela continua linda, sempre com uma aura de seduçao e encantamento. Pelo menos para mim.Afinal, aprendí a adorá-la furtivamente, no altar empoeirado das pilhas de jornais, numa sala pequenina e sem janela, no final do corredor. Seu templo era quase uma alcova, mas sua adoração tinha a duração de menos de uma hora.
Logo aparecia a dona priscilla, e lá ia eu de volta para o meu kardex, anotar os jornais em suas fichas.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sereias ? O que seriam ?

Nossas crenças são aprendidas.
Este ensinamento é feito através de imagens,idéias que se vão configurando,e figuras mesmo, um desenho para explicar melhor ou uma estátua.
Histórias que vão sendo contadas. Assim,a crença, da qual não se sabe a história é crendice, e as histórias, com suas personagens e cenários,formam o imaginário que sustenta a crença.Uma crença pode pertencer a uma nação, mas pode ser levada para muito longe.
No Brasil,tinhámos diversas crenças, as concentradas em um grupo e as comuns a várias nações indígenas.
E vieram inúmeras crenças, trazidas pelos portugueses,como a da sereia, por exemplo.É sabido que a crença nas sereias é de origem grega.
O interessante é entender as transformações que esta história sofreu, nessa viagem até Portugal, para chegarmos até o Brasil, onde a crença ganhou forma própria e inusitada.
Os homens do mar falavam de regiões perigosas, onde se ouvia um canto doce, encantador e irresistível, que atraía os navegadores. Ao aproximarem-se, eram atacados por pássaros enormes, com cabeça de mulher,que devoravam os marinheiros.
A história tem sua lógica, já que um canto doce seria mais próprio de um pássaro, do que de um peixe... e peixes não ficam pousados nos rochedos.
Por outro lado, nas tribos nórdicas,e também na Grécia,havia diversas histórias de seres aquáticos machos e fêmeas,mas, com forma humana.No mais eram monstros.
As sereias foram derrotadas por Ulisses, o ardiloso, e desapareceram para sempre.
Esta crença toca em uma outra, corrente em Portugal, de que Ulisses teria rumado para o extremo da Europa e fundado uma nova nação, cuja capital Lisboa, teria seu nome derivado de 'Ulissa bona', em honra a seu fundador.E a crença da sereia implantou-se em Portugal, sofrendo reformulações na imagem, mais ao espírito daquele povo. Agora a linda moça não é mais agressiva,tem cabelos escuros e, ao invés de ser alada,tem cauda de peixe.
Chegando aqui, encontra-se com a crença na Yara, a índia sedutora das águas doces. Asereia é retratada com formas muito avantajadas,fica morena, com cabelos escorridos e negros.Ganha ainda mais sensualidade e muita voluptuosidade.
Com a vinda das pessoas capturadas na África e escravizadas aqui,há um enriquecimento significativo do imaginário.Os negros bantu, cultuavam uma legião de seres habitantes das águas, a que chamavam de kiandas, e a quem atribuíam uma figura feminina, sendo que estas entidades podem possuir as iniciadas no culto. Já os Yorubá, chegados depois, contribuem com a figura dos orixás femininos,divindades ligadas a rios da Nigéria.Yemanjá, rainha do povo egbá,guerreira que defendia pessoalmente seu povo, frente aos ataques de outras tribos, cujo desaparecimento se envolveu na lenda de que teria ido viver no fundo mar, passou a reinar sobre todas as outras criaturas , ligadas a águas salgadas.Mas, também sofreu, e muito, o sincretismo, sendo quase que confundida, e tida como a própria sereia européia.
Quando o Kardecismo aporta por aqui, estas crenças se redimensionam e vão adquirir novo contorno, sendo já uma nova concepção.É que,como as pessoas aqui , durante as sessões religiosas, manifestavam espíritos de índios e escravos,caboclos e cangaceiros,contrariando as expectativas daquela doutrina,acostumada a tratar com espíritos de médicos, padres e freiras,e por isso não eram admitidas, dissidentes fundam a Umbanda, aplicando a doutrina kardecista à prática bantu. Yemanjá é adaptada ao gosto das pessoas brancas, e deixa de ser a robusta rainha de Egbá,de seios imensos e ventre protuberante e passa a ser retratada em moldes holiwoodianos.
Rita Hayworth estava em seu apogeu e seu estilo influenciou o imaginário da pintora que criou a imagem da mulher branca, esguia, vestida de seda azul, saindo do mar e espalhando pétalas de rosas e pérolas.Tiraram a espada da mão da guerreira.
Mas a velha sereia , de rabo de peixe, hoje se incorpora nas filhas-de-umbanda,descendentes de imigrantes italianos e espanhóis, e se arrasta na areia e chora, aos pés da imensa estátua de uma glamorosa Yemanjá branca...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mudança do Mundo

Aumento no buraco da camada de ozônio.Aquecimento Global.Derretimento da calota polar.Destruição em New Orleans. Tsunami em Samoa.Tragédia em Santa Catarina. Deslizamentos no Rio de Janeiro.Enchentes em São Paulo.Deslocamento do eixo magnético da Terra.Desgraça no Haiti.
É. A Coisa 'tá preta!
Mais uma vêz, entram em ação os alarmistas.Mais uma vez,entra em pânico o povo...
Mas é preciso não esquecer, que o planeta é como o rosto de uma mulher. Vai sofrendo transformações gradativas, inexoráveis, irreversíveis,cuja tentativa de disfarçar tende a resultar dispensável...
Só que o tempo do planeta envolve milhões de anos, e as transformações ocorrem em intervalos imensos. O problema, mesmo, só ocorre se você está lá, num momento de manifestação dessas mudanças.
É o que vivemos agora. O mundo está se reacomodando, como um cachorro, que acorda, dá uma olhada em volta, se sacode e volta a dormir.
Nada há para ser feito. Nada resolverá.
Não adianta fazer campanha, aproveitando a oportunidadwe, para arrecadar dinheiro para obras ridículas como as barragens de Veneza,que custarão bilhões de euros. Os mesmos bilhões que nunca se tem, quando se fala em acabar com a fome das populações exploradas.
Até Veneza sucumbirá! E não será o fim do mundo.
Aos pobres homens cabe ,no máximo, tentar sobreviver,pois não há na Terra, entre as criações humanas, nada que possa enfrentar a Natureza.
E, embora se possa relacionar o andamento das coisas à incompetência e ao relaxo dos administradores e à estupidez humana, como é o caso de São Paulo,na verdade tudo isso não é mais que uma ferroada de pernilongo para nosso indiferente planeta.
Também não esqueçamos que,ao levarmos uma picadinha de mosquito, lascamos logo uma bela bofetada, nem sempre certeira, em sua direção. Se não acabamos com o mosquito, pelo menos tentamos espantá-lo...
A Terra sabe se defender, e sabe a hora e o lugar, em que tem que entrar em ação.E não escolhe!
A hora é esta.
Tudo pode acontecer. Em qualquer lugar.
Não adianta promover reuniões de bacanas( sempre esbanjando dinheiro) em capitais confortabilíssimas da Europa para discutir o que fazer para evitar que os miseráveis do terceiro mundo não sofram... Nada adianta sair rápido do banho. É tarde demais.
O que se pode fazer é ficar esperto. Aqueles que não têem onde morar, mas mesmo assim não param de procriar, que não construam suas moradas em terrenos obviamente frágeis.
Mas, nada adianta. Se você vender sua casa linda, com piscina e tudo, bem em frente à praia da moda,e for morar numa pousada chiquérrima, ao pé da montanha, estará sujeito à surpresas do mesmo modo.
Não há para onde correr.
Mesmo assim, dá para se indignar com a postura de certos governantes. É sintomático o desprezo das potências da Europa por tentativas de agredir menos o planeta.
Justamente a Europa, que tanta desgraça já espalhou pelo mundo, em nome de sua necessidade de sedas e veludos.Justamente a Europa, que produziu todos os danos, que dizem ser responsáveis pelas tragédias atuais.
Olha o Haiti! Se você pensar bem, aqueles coitados que estão lá, e não fazem parte de nenhuma comissão de ajuda, para poder entrar num avião e cair fora,eles nem eram para estar lá, afinal.Foram carregados de sua terra, há um bom tempo, e escravizados para sustentar os europeus. Zica pura!
E, vamos fazer campanhas para arrecadar fundos!...
São autoridades descendo de aviões, em casacos bem quentinhos, são senhores do poder preocupadíssimos, que não param de discutir os problemas,reunidos em finos jantares com champagne. Todos elegantemente preocupados com os povos desgraçados.
Mas, assim como se repetem as mudanças da Terra,ou o desespero do povo,também os poderosos não farão nada.
Até porque, sabem que nada há a fazer.Não adianta nem rezar.
É a vida...
Mas, nem por isso, vamos continuar jogando tanta imundície nos rios.

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