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sábado, 16 de janeiro de 2010

Musas

Houve um tempo, em que eu apreciava as revistas masculinas. Todas elas.Eu tinha quase quinze anos,mas tudo para mim ainda era novidade. Ao lado daquela vida arcaica do bairro,explodia para mim uma nova realidade. Começava a circular pelas ruas do centro da cidade.Era um menino totalmente inexperiente, crente que tudo era como meus pais pregavam... Mas ao meu redor,tudo se revelava muito diferente.
É que eu trabalhava numa agência de informações e notícias, que ficava num edifício da Avenida Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú.O dono se chamava Arthur de Bernardis Filho, e sua esposa era a Dona Priscilla, uma bela mulher.
Uma vez,em horário de almoço,indo em direção ao Viaduto Santa Ifigênia,ví uma mancha escura vindo em direção ao solo. Era uma pessoa que se atirou. Caiu bem ali, e num instante já tinham coberto o corpo com uns plásticos pretos.Um fio de sangue ia escorrendo em direção ao bueiro.
Seguí adiante, vendo que o povo já se aglomerava, que eu tinha que resolver umas coisas e voltar ao serviço.Ainda gritei para os curiosos: "Estão esperando o quê, que ele levante e saia andando?", mas o povo ia parando e ficando em volta, olhando. A praça do Correio era um lugar fantasmagórico, assombroso para meus quatorze anos. Era um centro da decadência, e a decadência que se via ali era extremamente crúa.Violenta até, pois a miséria levava as pessoas a extremos . Ví uma mulher velha e gorda, toda em andrajos, toda suja, bêbada, expondo os seios e abrindo as pernas, e soltando impropérios contra os apupos,vaias e risadas do povaréu que passava.Eu nunca tinha imaginado qualquer coisa parecida. Soube depois, que aquelas mulheres com roupas chamativas, maquiadas em escesso, que andavam pela praça, eram mulheres 'da vida'. Aquela desgraçada, que me fez parar, chocado, seria uma 'mulher da vida'velha e acabada. O centro de São Paulo era muito impressionante.
Na firma em que eu tarbalhava,chegavam publicações de todo tipo. Jornais minúculos, de quatro páginas, de lugares inimagináveis,e as mais importantes publicações de todas as capitais, e revistas.Ótimas revistas.
Eu era kardexista. Veja bem, nada a ver com kardecista, o praticante do espiritismo.
Antes eu trabalhei como arquivista, e o kardexista é um tipo de arquivista. Coisas do século passado, que não voltam mais.Eu anotava todas as entradas, em fichas na ordem alfabética, com uma tabela para marcar a data e a quantidade dos exemplares.
Era até bonitinho aquele armariozinho, com aquelas gavetinhas fininhas.
A sala era abafada, não havia circulação, e as pilhas de jornais produziam um pó, onde , mesmo assim, sentavam-se todos os office-boys, nos intervalos de suas saídas. Era um alvoroço. Na hora do almoço,antes que eles voltassem, eu aproveitava para dar uma olhada naquelas revistas masculinas. O que as diferenciava eram os ensaios fotográficos de nus, que estavam totalmente em moda, eram praticamente obrigatórios, e as modelos não eram qualquer pretenciosa pré-fabricada. Eram mulheres lindas, talentosas, famosas, consagradas,e muito populares.
Entre tantas beldades indiscutíveis, houve uma série especial, com algumas que tornaram-se célebres, pelo menos para mim,inesquecíveis.Algumas me parecem insuperáveis, apesar de as modelos atuais estarem perfeitamente na esteira...
Não posso esquecer Adele Fátima,Maytê Proença,Sandra Bréa,Bruna Lombardi e tantas outras. Grandes mulheres!
Mas, tem sempre uma, que é a preferida, a musa encantada, dos adolescentes sonhos. A minha é Sonia Braga. Sem precisar pensar.
Há um ensaio em que ela está entre uma cortina de seda branca, numa porta aberta contra a luz do sol. Poderia parecer a porta do céu, um paraíso de beleza e perfeição.
A mulher mais linda que eu já ví. Uma verdadeira deusa.Era a nova beleza que brilhava, e brilhava com esplendor.Tanto que ela teve que ir embora, lançar sua luz muito mais longe.Sua volta anda muito silenciosa, mas ela continua linda, sempre com uma aura de seduçao e encantamento. Pelo menos para mim.Afinal, aprendí a adorá-la furtivamente, no altar empoeirado das pilhas de jornais, numa sala pequenina e sem janela, no final do corredor. Seu templo era quase uma alcova, mas sua adoração tinha a duração de menos de uma hora.
Logo aparecia a dona priscilla, e lá ia eu de volta para o meu kardex, anotar os jornais em suas fichas.

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