# Uma vista de baixo para cima

do mundo em que vivo e da vida que levo #



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São Paulo, São Paulo, Brazil
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Não tenho medo de demônios, mas, corro dos que acreditam neles.







Avanço

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Sacrifício de animais

O argumento maior,que sustenta o preconceito e a discriminação religiosa contra o candomblé e demais religiões de matriz africana, no dizer de agora, as religiões dos negros,dizendo bem.
Quisera,dispusessem os negros devotos, de tantos animais para oferecer ritualmente aos seus deuses, quantos são,estes sim, sacrificados,tirados de sua rotina natural, para satisfazer prazeres e necessidades vitais de toda a sociedade,todos os dias,sobre a mesa.
A palavra 'sacrifício' precisa ser corrigida politicamente, tanto quanto 'escravo'. 'Escravizado' é termo mais próprio à maioria dos casos em que se usa o adjetivo, sintético.A voz passiva expressa mais claramente a realidade, já que inclui uma indagação.Quem escraviza?
'Sacrificar' soa pleonástico,denunciando a total ignorância dos fatos,nenhuma noção daquilo que se está atacando.E cegueira absoluta às soluções costumeiras para resolver questões sobre como matar a comida para a família.
Nas religiões que guardam modos africanos, quando se pode ter outro ser vivo para alimento do próprio corpo(desculpando-me agora um pleonasmo meu), este ato deve ser ritualizado. O animal é honrado e não deve sofrer. Não deve padecer dor.O sangue deve ser aparado de forma respeitosa. As partes de seu corpo, que não serão consumidas, recebem preparação especial,e estas são as oferendas. As partes que se come, são preparadas e servidas a uma comunidade, que festeja.
São costumes antigos,de quando não se ia às prateleiras do supermercado e se encontrava qualquer tipo de carne,à disposição,se comprava e se comia, sem qualquer preocupação com a origem, ou com como foi assassinado o ser, ali, congelado.
As pessoas comem carne todos os dias. Muitas têm nisso o termômetro de seu bem estar.Muitas dizem: 'sem carne, eu não como!'.
Para isso são escravizados muitos milhões de animais.E, na hora de matá-los,forçam-nos a uma fila do terror,dão-lhes seguidas porradas, humilham-nos, fazendo com que produzam pérfidos venenos,que penetram cada célula de seu corpo, que ficará muitíssimo tempo em geladeiras, até que um dia,seja posto em seu prato.
A Arte desenvolvida há várias gerações,de pedir perdão por tirar uma vida, de agradecer pelo alimento encontrado,prepará-lo como um ato sagrado e dividí-lo com o máximo possível de gente parece muito laboriosa.Incomoda mentes práticas,mais predispostas a logo desclassificar aquilo de que não entendem nada.
Rituais em que se costumam incluir oferendas de animais são cada vez mais raros, até porquê, muito se vem fazendo para inviabilizar costumes e tradições vindos da África. Há muito tempo.
Há, entretanto, grupos religiosos com crenças e costumes de outras origens,que criaram um sincretismo todo próprio,ao misturar referências da magia negra,do catolicismo,da magia cigana,com práticas mal aprendidas das religiões que o povo negro já praticava aqui. O Demônio passou a chamar-se Exú.O mundou ficou entre o céu e o inferno...
Nada a ver com negros nem com o Candomblé, de origem africana.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Pai do Rock

No princípio era o Frank Sinatra, um paletó bem cortado,cabelos engomados, voz muito bem colocada e jeitão de moço bem comportado.Coitado!
Quando explodiu Little Richard, muita gente viu,que era o fim do mundo.
Mais uma vez a Igreja Católica apontaria seu dedo,querendo encontrar ali o rabo do Diabo.
Na verdade o estrondo já vinha de uma explosão,que já tinha abalado o gueto. Já era a nova onda há um bom tempo e deixava claro que era puro poder.
Richard definira, em seus shows no gueto,uma nova música, o Rock, e além de estabelecer novos limites para a execução da guitarra, para como cantar e para o mis-en-cene,transbordou seu comportamento enlouquecido para o povo, que se via tomado de uma mania, e começava a reproduzir no comportamento social uma nova maneira de se relacionar com o mundo.
Era uma nova era.
O fim das vozes sedosas, apaixonadas e dos galanteios espirituosos.
Nada do comedimento do fox-trote, nada do chove-não-molha dos slows.
A juventude parecia endiabrada. O rapaz jogava a moça para o alto, e ela ficava de cabeça para baixo e pernas para o ar.Só podiam parar no Inferno...
Mas todo aquele frenesí não gerava somente polêmica e protestos da sociedade apavorada. O rebolado desnorteante, os gritos e desvarios no meio da música eletrizante,tudo aquilo rendia muito dinheiro.
Os artistas negros tinham as costumeiras dificuldades para descolar um espaço em gravadoras e casas de shows do lado dos brancos, e era lá que estava o grosso do dinheiro.
Mas Little Richard fez ecoar seu sucesso de tal modo, que chamou a atenção dos produtores brancos. "como fazer para a população branca consumir aquele negro descomposto,esquisito,espalhafatoso,exagerado,que seria um péssimo exemplo para a promissora juventude americana?"
A história daquele rapaz não foi mais tranqüila que o rítmo que ele lançara. Rivalidades,competição, puxadas de tapete,adversidades que poderiam tê-lo calado.
As gravadoras do gueto estavam faturando tudo o que podiam,as casas onde os negros podiam entrar não davam conta do público, que as lotava todo fim de semana, onde quer que ele fosse.
Pois os produtores brancos trataram de trabalhar, e acharam aquele que poderia produzir o mesmo efeito que Little vinha causando.
Elvis Presley.Perfeito!
Bonito, saudável, uma voz poderosa e aquela gana natural de um rapazola enfastiado de uma vida militar e dos gospels sentimentais do coral da igreja, diante da possibilidade de realizar todos os seus delírios de artista.Um contrato. Shows,sucesso,fama e dinheiro.Não deu outra.
Ele foi lá e caprichou.O topete,a jaqueta,o rebolado, o susto. Fez tudo direitinho.foi aclamado o Rei do Rock.As produtoras se deram bem.Ele,talvez,não tenha encontrado tudo como sonhara.
Ao redor do astro maior, que é Little Richard,uma miríade de grandes estrelas viria formar a constelação do Rock'n'roll: de Michael Jackson e Prince a Jimmy Hendrix ou Raul Seixas. Todos seguindo aquela cartilha da irreverência,do absurdo,do enigmático,do chocante e do sensual,tudo junto.
Não seria a única vez que um artista seria produzido para preencher uma lacuna mercadológica.
Pelas mesmas questões surgiria Daniela Mercury, no Brasil,para fazer frente ao movimento estrondoso que surgiu no Curuzú,Salvador,e que despontava com um grupo negro, a Banda Reflexus,em que a vocalista negra não conseguiria arrancar a grana da classe-média do sul do pais.O sambafro virou axé music.Mas, esta é uma outra história...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Carnaval, pela continuidade da vida

O Carnaval é a festa mais importante do planeta. Sua origem é controvertida,talvez por ocorrerem manifestações em todo o mundo,em datas similares,desde épocas remotas.Mas, é comum a todas as culturas,adquirindo significados e formas próprias a cada costume.
Fala-se de uma possível origem indiana, derivando do Holee uma festa em que as pessoas vão às ruas, levando grandes quantidades de pós de várias cores e aromas, para atirarem, umas sobre as outras, numa brincadeira muito divertida.
Há quem veja nas Saturnálias ,da Roma Antiga, o princípio desta festa comovente e pertubadora.Lá, entre as muitas cerimônias em honra a Saturno e aos outros deuses,constavam festins fartos de vinho e orgias.
Em Veneza o Carnaval é tranqüilo,pois as pessoas simplesmente passeiam por ruas e praças, exibindo trajes riquíssimos e as plácidas máscaras,guarnecidas de esmerados arranjos,que conferem um ar de mistério a quem usa.Alguns se comprazem apenas com admirar as criações extravagantes,personagens que passam e somem na paisagem,e atirando-lhes confetes e serpentinas.
Em Paris, além da fantasia luxuosa e da máscara, que aqui pode ter um cabo,para ser segurada na mão,e cobrir ou descobrir o rosto a qualquer momento, realizam-se bailes suntuosos,tocados por uma orquestra,em esplêndidos salões, especialmente decorados, onde o ambiente ganhava um clima libidinoso.
Na Alemanha, existe um serviço médico especial para atender as mulheres que ficam grávidas nos dias do Carnaval.
Em Portugal,as brincadeiras eram chamadas de entrudo,e as pessoas evitavam sair de dentro das casas,tais os riscos a que ficavam expostas.Grupos de baderneiros,seguindo um tambor, o zé-pereira,tocado apenas para chamar a atenção, sem preocupações de ordem musical,munidos de variados ingredientes, quais fossem, farinha, ovos, corantes,óleos,águas sujas e outros,saíam pelas ruas em grande alarde à procura de vítimas. Ao topar com algum incauto,surravam-no e passavam a atirar sobre ele todas aquelas coisas.
Mas, quem não ia para as ruas,participava da festa espreitando, do balcão,no primeiro andar,algum passante, no qual despejavam as águas servidas da casa, incluindo-se as jogadas diretamente dos penicos.Nos ataques, usavam-se chiringas cheias de urina, capazes de atingir a vítima, mesmo em fuga.
Todos estes costumes foram trazidos para o Brasil,onde o nome entrudo foi depois substituído pelo nome do tambor que se batia.
Os zé-pereiras eram grupos menos agressivos,nos quais já começavam a despontar as influências africanas,de forma que começa a haver maior preocupação com dar um rítmo ao toque do tambor e a usarem-se músicas para animar as brincadeiras.
Na Nigéria,entre o povo Yorubá,ocorre um grande festival,chamado Ifé Gueledé,em que, enquanto procede-se ao cumprimento dos ritos e oferendas às deusas da fertilidade, para que garantam a saúde e o sustento para toda a comunidade, máscaras são confeccionadas e devidamente consagradas.
A saída das máscaras organiza-se em forma de cortejo, que segue pela cidade, parando diversas vezes para que se realizem danças e se apresentem canções, elaboradas sobre um tema buscado nas experiências vividas no ano que termina.Os artistas,vestidos de mulher,têm a oportunidade de alegrar a todos com seu talento e graça, e a comunidade se diverte, avaliando as apresentações, cantando e dançando em comunhão.É um momento muito importante,em que nada pode sair errado, para não desagradar as deusas da vida e em que se renovam os laços de fraternidade e as forças para enfrentar os desafios do novo ano.
Vemos aí a estrutura original do Carnaval brasileiro,e seus desfiles deslumbrantes,em que, no rítmo do samba, pode-se saborear a mestria dos compositores e dos passistas.
É certo que nosso Carnaval apresenta diversas influências e uma evolução gigantesca,mas todos sabem que,na alma do brasileiro, o ano só começa, mesmo, depois de cumprido o sagrado Carnaval.

domingo, 24 de janeiro de 2010

História da água, nossa vida

Uma das mais belas histórias que aprendí, muito rica de significados e muito importante, é a história do surgimento da água, de acordo com a tradição Yorubá.
O povo Yorubá é habitante de boa parte da Nigéria, onde está ainda, mas esparramou-se pelos países dominados por europeus, onde, mesmo sendo escravizado, dominou culturamente.Brasil e Cuba, por exemplo.
A força desta cultura está não só na beleza de seus mitos, mas na coerência interna deles.
Segundo os yorubás, há um Deus imensurável, senhor da existência, ao qual não se invoca, não se rende culto,não se pede ajuda e nem perdão.
Òlorún, senhor do infinito, ou Òlodùmaré, senhor dos destinos, são atribuições àquele Deus,mas, não devem ser banalizadas, sendo uma referência,para momentos apropriados.Não se figura este Deus em imagens.
Òlorún cria diversos deuses de si mesmo, e orienta-os a proceder à criação do Universo.Os deuses da criação são puríssimos, derivados como eram do ser supremo. Todos eram muito semelhantes em sua essência, transparentes como cristal,diáfanos como nuvens, e usavam seus poderes combinados, para realizar sua tarefa.Este grupo de deuses é chamado de Babá-funfún, os 'Papais do Branco',e seus devotos vestem-se de branco em sua honra.As oferendas a eles são sempre compostas de ingredientes brancos.
Estes deuses 'cristais' criaram todo o universo e a vastidão do infinito.
Mas, sua obra não chegava a se concluir, já que, sendo a energia deles de caráter único, não permitia, num certo ponto, prosseguir se recombinando e produzindo elementos novos.
Diante do impasse, os Babá-funfún se reúnem e decidem resolver a questão do seguinte modo: juntos, reunindo todos os seus poderes, criariam aquele princípio que faltava para desencadear o ápice de sua obra.
Projetaram toda sua luz no nada,havendo como uma maravilhosa explosão de energia, e da imensidão do Universo surge Òxún,a primeira mulher a ser criada.Ela é a água-doce,o princípio que faltava.
E era Òxún muito bela e atraente, de maneira que atraiu o próprio criador.
Òrúnmìlà, um dos babá-funfún,que era o Sol luminoso,o olho do céu, que tudo vê,apaixona-se completamente pela esplêndida criação.Os olhos do céu só querem refletir-se em Òxún.O Sol só brilha onde ela está, só brilha para ela...
Assim, a água-doce, escorrendo sedutora pelos regatos, recebendo o calor da luz de Òrúnmilá,refletia em sua transparência brilhos dourados.Era o encontro dos dois princípios, sendo que, só depois dela surgida, foram diferenciados como masculinos os velhos deuses.Agora, com o encontro do masculino e do feminino,pode-se criar várias outras deusas, as Ìyabás, Mães poderosas, todas relacionadas com águas de rios, e capazes de gerar a obra maior na criação, que é a vida.
Por isso é a nossa mãe maior, a Ìyá Lodé,é Òxún,a água cristalina, origem de tudo que é vivo, e elemento essencial de toda a vida.Seu cetro traz a figura de um pássaro, símbolo de seu poder.
Os senhores do branco descansam nos céus como lençóis brancos, circundando e protegendo Òxún e seus filhos no mundo.
Poderiam ser comparados, com toda a licença, com a camada de ozônio, envolvendo a Terra.
Segundo o mito,Obatalá é o Rei que guarda o Alá, o pano branco que cobre o mundo, e que é a garantia da continuidade da vida. Muito sisudo e apegado a sua pureza original,o maior de todos os babá, o Òrixá nlá, não admite que lhe sujem o Alá, reagindo brutalmente caso alguma impureza o macule.
Ao que parece, os 'buracos' na camada de ozônio indicam que já maculamos o Alá... Obatalá já deve estar bem zangado, e já deve ter começado o trabalho de reparação. Mas a primeira a entrar em risco é Òxún, a água que pode evaporar-se e voar, como linda pomba, branca como uma núvem,para o infinito.
Sem ela o mundo perderá toda a beleza e a graça: não haverá mais espelhos para o Sol se refletir, não haverá mais vida...

Vítimas do capitalismo cego

A realidade sempre pode ser mais terrível do que se pode supor. Estão aí os haitianos para confirmar.
A tragédia,que acompanhamos diariamente pela televisão,não é um fato isolado. É apenas um clímax de uma história macabra.
Quase mais grave que a história é o modo como ela vai sendo contada.
Quando o William Bonner anunciou que o povo do Haiti é, em sua imensa maioria, praticante do Vodu, 'uma religião muito parecida com o candomblé', primeiro fez uma ligeira pausa, mudou a expressão do rosto e o tom da voz.Discretíssimo, mas,nem tanto. Outro detalhe sempre destacado, sempre que se trata deste tipo de notícia, é a taxa de analfabetismo no país. Assim também ocorre com países africanos.
Diante de tragédias humanas, como as de Angola ou Ruanda, percebe-se que há uma tendência a procurar argumentos que justifiquem o ocorrido, como decorrênte de insuficiências da própria população, ou sugerir tratar-se de algum tipo de 'castigo'.Já ouví quem insinuasse, que a balbúrdia no Rio de Janeiro, entre a polícia e os representantes dos traficantes,deve-se ao Carnaval...
Não o terremoto, é claro, mas o caos em que se transformam as relações entre as pessoas.
Basta procurar a História do Haiti,de Angola,de Camarões ou da Nigéria e logo se saberá qual é o ponto comum a todas elas: são ex-colônias de países Europeus.
Há muito a Europa vem resolvendo seus problemas internos na base da bala, mas a fome, a miséria geradas por guerras,pestes, ou simplesmente pelo território reduzido e estéril, fizeram com que se arquitetassem outras saídas.
E eles foram, com suas armas, atacar, saquear e destruir outros povos, explorando tanto as riquezas da terra, como a força de seus habitantes.
Pior que isso, quando todos os recursos são esgotados, e já não há mais nenhum interesse, partem, levando tanto quanto tenham encontrado, e deixam aquele povo em situação de penúria e descontrole. Além da força bruta, é comum que recorram a um estratagema infalível:
Criam divisões entre a população, elegem um grupo,que seria o 'melhor',armam este grupo e pôem o próprio povo para se destruir. Estas divisões são sempre baseadas em alguma diferença que só eles apontam. É como dizer: 'quem não fuma é bom, quem fuma não presta!'. E deixar que os não fumantes persigam os fumantes.
Com o povo devidamente tomado dessa crença, resta sentar e assistir a desgraça.
Um terremoto pode ter qualquer explicação, mas a precariedade de tudo no Haiti,a seqüência insólita de governos, golpes de estado, queda de governantes, e conseqüentes transtornos,tudo isso pode muito bem ser esclarecido. Basta ler a História!
O Haiti, que já foi considerado a 'pérola'das Américas pela imensa riqueza que garantiu a seus depredadores,teve sua população original aniquilada com a chegada dos espanhóis.Os que não tombaram sob as armas, foram vítimas das doenças,as pestes que os europeus espalharam para várias partes do mundo.
Quando já tinham tirado todo o ouro, que era muito, deixaram a carcaça para a França, que, com africanos sequestrados por ela mesma,ou roubados por seus piratas a outros traficantes,fez florescer ali a cultura da cana-de-açucar.
O tratamento aos escravizados era brutal, como de costume, e os resultados eram delirantes.Uma riqueza sem conta toda transportada para a Europa.
Depois vieram os estadunidenses e completaram a orgia, financiando ditaduras assassinas para continuar explorando o país, e garantir o controle sobre o povo.
É comum que se transmitam estes fatos,com a deslavada mentira de que nunca houve reações contrárias,mas, o Haiti foi a primeira colônia a abolir a escravidão e a conquistar a independência.Em todos os lugares em que os europeus exerceram sua brutalidade, sempre houve resistência e luta, ainda que a desigualdade de forças fizesse da oposição um caminho certo para a morte.Sempre se dissimulam estas informações.
Hoje vemos as forças americanas tomando novamente conta do país...
A 'ajuda'deve ser criticada pela mesquinharia geral. Além de praticamente não fazerem vulto,visto o tamanho da calamidade, ainda criam situações de maior desespero na hora de entregar esta ajuda. Os mantimentos são atirados de avião,em lugares onde o pouso seria totalmente possível. Ou fazem o povo saber que há comida atrás de um muro, por exemplo,mas não distribuem.
Tudo, lógicamente, devidamente filmado.E correm o mundo as imagens das pessoas no extremo do desespero, atacando e saqueando as provisões.E completam: 'são analfabetos e praticantes de Vodu'
Há muito, isso é assim.
Até onde vai a falta de moral dos predadores?
O que mais hão de inventar para continuar vivendo da exploração dos outros?
Eles, os cultos, civilizados,do 'primeiro mundo'?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Gente idosa e gente velha

Com isso de politicamente correto, é preciso que se tenha muito mais cuidado, no momento de avaliar as coisas.Não é tanto avaliar o nome que se dá,mas, mesmo avaliar de que se está exatamente falando.
A palavra velho já foi muito usada como chingamento. Aplicava-se a inúmeras personagens,de forma generalizada, não estando relacionada com a idade cronológica da criatura.
Trata-se da criatura caturra,temerária, que, cheia de complexos, quer proibir tudo, a menos que seja feito da maneira segura, contida, que se fazia antigamente...
O cara preso no passado, nos antigos modos de entender as coisas,de fazer as coisas. Este era 'um velho', na boca daqueles que estavam sedentos diante da fonte, querendo saciar sua necessidade de experiência e de vida.
É de notar que os seres da 'terceira-idade', há um bom tempo vêm demonstrando, que o tempo e o volume de conhecimento não sobrecarregam o sorriso, a atitude desapegada, a espontaneiadde.Há muitos que parecem que melhoraram, quanto maiores foram as adversidades.
Temos, então que distinguir claramente as pessoas idosas das pessoas velhas.
E nunca é muito, enaltecer estes idosos brilhantes que continuam a revelar ímpetos libertadores,ajudando realmente aos presunçosos jovens, como é que é bom fazer.
Eles não impôem modelos, como é próprio das gentes velhas.
Esta velhice de que falo, é a que faz alguém perder o trem da história.
Lembremos do caso Geisy,que fere mais que os direitos da mulher,em que a Uniban,representada por pessoas cegadas pelas penumbras dos velhos conceitos,perdeu, com seu carrancismo, a chance de estourar na mídia, de uma forma completamente diferente.
Se apóiam a aluna, poderiam ter conquistado importantes simpatias. Mas entenderam que, em nome dos bons costumes das famílias, era melhor pinchar a ousada fora,e defender os filhinhos dos pagantes. Se deram mal.
Já, o comportamento da garota mostra que, naquele dia em que ela saiu de casa naquele vestidinho cor-de-rosa,ela não saiu para brincar. Estava pronta para ir às últimas conseqüências.Era tudo ou nada.
Não tomemos por mero despudor ou falta completa de noção. Ela sabia muito bem a que vinha.
E deu certo! Depois de aparecer humilhada, ultrajada, para todo o mundo, conquistou o lugar que ela sempre almejou,e a atenção que ela tanto buscava. Ela merece.
Pagou para ver, teve uma atitude 'jovem', e está sabendo articular muito bem a sua fama.
Pouco importa que seus trajes não fossem adequados para o ambiente acadêmico.Agora estarão muito adequados nos desfiles do Carnaval, justamente num momento em que vivemos tempos de 'mulheres-fruta'.ela está 'up-to-date'.
Triste ficou lá, para a reitoria da Uniban.
voltando aos idosos, três exemplos serão o bastante para encerrar este assunto.
Dercy Gonçalves, a própria irreverência, desafiando até o tempo com sua explosão de energia.
Cora Coralina,uma planta dessas que levam anos quietas, se concentrando, e só quando já são uma árvore frondosa, de repente carregam-se de flores e dão seus frutos,à farta, sempre em boa hora,mais doces do que se tivessem surgido prematuros...
E Hebe Camargo, atravessando décadas sempre radiosa, e cada vez mais encantadora, com sua simplicidade e alegria.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O que fazer com o cabelo?

Todos os dias, assim que despertam, as pessoas cuidam de sua higiene, de sua aparência e de sua alimentação,nem sempre, necessariamente nesta ordem.
E todo dia tem-se que dar uma forma aos cabelos, ou cobrí-los,num gesto que é tão banal, mas que envolve uma gama imensa de significados. Há até o clichê de que os cabelos são a moldura do rosto, para justificar a importância que se dá à forma que os cabelos apresentam.
Na arrumação do cabelo colocam-se não só os sinais que se quer que vejam, numa preocupação com o exterior,como profundas necessidades do mundo interior, que nem sempre se quer que note.
É aquela história da mulher negra, que alisa seus cabelos para parecer branca.
Mas os cabelos revelam sua identidade, sua tribo, e nessa tribo concreto-metálica urbana moderna, ainda procuram-se referências de origem e status no modo como se traz o cabelo.
Quando eu era criança, cabelos tingidos de louro, mal conservados, e por isso com raízes escuras, só as 'mulheres da vida' usavam.
Hoje,não só as mulheres, que ascendem algum degrau, tingem logo o cabelo de louro, como o homem, principalmente negros, quando sobem na vida, preferem uma boa parceira loura.É um mercado.
A aparência dos cabelos projetam uma identidade, que não é a que se tem, mas a que se gostaria de ter.Como se quer ser reconhecido e valorizado.
O homem, que, principalmente na cultura ocidental, é geralmente menos aparatoso, projeta na mulher que o acompanha o seu poder.
Desde há muito tempo, no interior da África, o cabeleireiro era figura respeitada.
Transitava, nômade, de uma a outra tribo, carregando variado equipamento.Ferros de formas diversas eram aquecidos em brasas, e usados no alisamento dos cabelos, que, assim, adquiriam a textura ideal para a montagem de modelos especiais de penteado que, além de incluir partes trançadas, eram guarnecidos de enfeites como folhas, sementes, conchas, ou outras coisas vistosas que se pudesse achar.Chamavam-se 'massunssus'.
Há, também na África, povos que usavam a urina do boi como descolorante dos cabelos, que ganham, assim, tons alaranjados.
Ou seja, é velha a intenção de se ficar mais bonito, modificando a aparência da cabeleira.E parece que já foi até mais criativa.
Ainda ando pelas ruas e encontro um séquito de Cleópatras de jeans,todas iguais, circulando com trejeitos que misturam timidez e provocação,sem se darem conta de que nem estão tão charmosas, pelo efeito artificial que predomina.
É a moda da chapinha, universalizada,que agride a estrutura capilar, mas, o que é pior,deixa muita mulher, que pensa que está linda, com uma aparência patética, pois é ridícula, mas é triste.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Perplexidade com o paradoxo

Tive uma formação católica rigorosa. Minha avó e minha mãe andavam sempre pelas igrejas,e sentia-me bem naquele ambiente de devoção.
Assim que aprendí a ler, peguei uma edição ilustrada da Bíblia, que fora de meu avô, e lí inteira.
Quando meus irmãos foram para o catecismo, fui também, mesmo com a idade incompleta, eu os acompanhei por todo o ano, copiando as apostilas a mão,com ilustrações que eu mesmo fazia. No próximo ano,fiz novamente,na idade certa,recebendo minhas lições mimeografadas pela catequista.
Fiz a primeira comunhão, e sonhava com o dia de minha crisma.
Com oito anos, um dia saí sozinho e resolvido: fui até a igreja e disse ao padre de minha intenção de tornar-me padre.Ele deu uma rápida olhada, e disse: -Você é muito novo para saber se quer ser padre.Espera até você fazer quinze anos. Então, se ainda quizer,volte aqui,e eu mesmo te encaminho.
Continuei lendo tudo que encontrava a minha frente,insaciável.
Saiu na revista Manchete uma matéria,com o título " Um dia na vida do Papa". Tratava-se do Papa Paulo VI.
Fantástico! Mostravam os aposentos do Papa, sua cama, seus tronos( já no fim da vida, não mais podendo andar, aquele papa era transportado por quatro homens, em um trono portátil).Descreviam sua dieta requintada,composta de delicadezas vindas de várias partes do mundo. O que se poderia encontrar de melhor e de mais fino.O guarda-roupas Revelava a opulência da Igreja Católica Apostólica Romana.Tudo era rebordado com fios de ouro.Inclusive os sapatinhos, sempre célebres...
Anéis e cetros valiosíssimos,cada um podendo matar a fome de um continente.
Alguma coisa intuitiva dizia-me que algo estava errado. Algo não tinha coerência.E aquilo tudo que eu estudara tanto,nas lições do catecismo? E os ensinamentos de minha avó?
Fiquei desnorteado e me sentindo traído.
Concluí que não era aquela a devoção a que deveria me entregar, pois contrariava totalmente minha noção de desapego cristão e compaixão humana.
Só me reencontrei,depois de um fato ocorrido na casa de minha avó, em meio a uma faxina que ela fazia em seu armário.Deparei com a certidão de casamento dela, onde lí o nome de minha bisavó: Esperança Fé da Caridade. Achei o nome curioso, e quiz explicações.
Minha avó explicou-me que aquele não era o verdadeiro nome de sua sogra.Aquele era o nome que deram a ela, quando chegou aprisionada da África . O nome original se perdeu.Valia o nome cristão que era dado: marcavam no negro, com ferro em brasa, a identificação de quem seria seu dono e lhe davam um nome bíblico; então,a criatura podia ser escravizada em paz.
Tudo me estarrecia, mas eu nem sabia articular a polêmica que se formava em minha cabeça.
Uma indignação vinha das arbitrariedades,e um encantamento,da revelação que
se afigurava. Eu era descendente de africanos. eu era descendente de gente escravizada. Eu era Negro!
Como ainda hoje, pouco ou nada se encontra sobre cultura negra,sabedoria africana.Mas eu buscava e continuo ainda buscando.
Há muito a ser revelado.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Musas

Houve um tempo, em que eu apreciava as revistas masculinas. Todas elas.Eu tinha quase quinze anos,mas tudo para mim ainda era novidade. Ao lado daquela vida arcaica do bairro,explodia para mim uma nova realidade. Começava a circular pelas ruas do centro da cidade.Era um menino totalmente inexperiente, crente que tudo era como meus pais pregavam... Mas ao meu redor,tudo se revelava muito diferente.
É que eu trabalhava numa agência de informações e notícias, que ficava num edifício da Avenida Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú.O dono se chamava Arthur de Bernardis Filho, e sua esposa era a Dona Priscilla, uma bela mulher.
Uma vez,em horário de almoço,indo em direção ao Viaduto Santa Ifigênia,ví uma mancha escura vindo em direção ao solo. Era uma pessoa que se atirou. Caiu bem ali, e num instante já tinham coberto o corpo com uns plásticos pretos.Um fio de sangue ia escorrendo em direção ao bueiro.
Seguí adiante, vendo que o povo já se aglomerava, que eu tinha que resolver umas coisas e voltar ao serviço.Ainda gritei para os curiosos: "Estão esperando o quê, que ele levante e saia andando?", mas o povo ia parando e ficando em volta, olhando. A praça do Correio era um lugar fantasmagórico, assombroso para meus quatorze anos. Era um centro da decadência, e a decadência que se via ali era extremamente crúa.Violenta até, pois a miséria levava as pessoas a extremos . Ví uma mulher velha e gorda, toda em andrajos, toda suja, bêbada, expondo os seios e abrindo as pernas, e soltando impropérios contra os apupos,vaias e risadas do povaréu que passava.Eu nunca tinha imaginado qualquer coisa parecida. Soube depois, que aquelas mulheres com roupas chamativas, maquiadas em escesso, que andavam pela praça, eram mulheres 'da vida'. Aquela desgraçada, que me fez parar, chocado, seria uma 'mulher da vida'velha e acabada. O centro de São Paulo era muito impressionante.
Na firma em que eu tarbalhava,chegavam publicações de todo tipo. Jornais minúculos, de quatro páginas, de lugares inimagináveis,e as mais importantes publicações de todas as capitais, e revistas.Ótimas revistas.
Eu era kardexista. Veja bem, nada a ver com kardecista, o praticante do espiritismo.
Antes eu trabalhei como arquivista, e o kardexista é um tipo de arquivista. Coisas do século passado, que não voltam mais.Eu anotava todas as entradas, em fichas na ordem alfabética, com uma tabela para marcar a data e a quantidade dos exemplares.
Era até bonitinho aquele armariozinho, com aquelas gavetinhas fininhas.
A sala era abafada, não havia circulação, e as pilhas de jornais produziam um pó, onde , mesmo assim, sentavam-se todos os office-boys, nos intervalos de suas saídas. Era um alvoroço. Na hora do almoço,antes que eles voltassem, eu aproveitava para dar uma olhada naquelas revistas masculinas. O que as diferenciava eram os ensaios fotográficos de nus, que estavam totalmente em moda, eram praticamente obrigatórios, e as modelos não eram qualquer pretenciosa pré-fabricada. Eram mulheres lindas, talentosas, famosas, consagradas,e muito populares.
Entre tantas beldades indiscutíveis, houve uma série especial, com algumas que tornaram-se célebres, pelo menos para mim,inesquecíveis.Algumas me parecem insuperáveis, apesar de as modelos atuais estarem perfeitamente na esteira...
Não posso esquecer Adele Fátima,Maytê Proença,Sandra Bréa,Bruna Lombardi e tantas outras. Grandes mulheres!
Mas, tem sempre uma, que é a preferida, a musa encantada, dos adolescentes sonhos. A minha é Sonia Braga. Sem precisar pensar.
Há um ensaio em que ela está entre uma cortina de seda branca, numa porta aberta contra a luz do sol. Poderia parecer a porta do céu, um paraíso de beleza e perfeição.
A mulher mais linda que eu já ví. Uma verdadeira deusa.Era a nova beleza que brilhava, e brilhava com esplendor.Tanto que ela teve que ir embora, lançar sua luz muito mais longe.Sua volta anda muito silenciosa, mas ela continua linda, sempre com uma aura de seduçao e encantamento. Pelo menos para mim.Afinal, aprendí a adorá-la furtivamente, no altar empoeirado das pilhas de jornais, numa sala pequenina e sem janela, no final do corredor. Seu templo era quase uma alcova, mas sua adoração tinha a duração de menos de uma hora.
Logo aparecia a dona priscilla, e lá ia eu de volta para o meu kardex, anotar os jornais em suas fichas.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sereias ? O que seriam ?

Nossas crenças são aprendidas.
Este ensinamento é feito através de imagens,idéias que se vão configurando,e figuras mesmo, um desenho para explicar melhor ou uma estátua.
Histórias que vão sendo contadas. Assim,a crença, da qual não se sabe a história é crendice, e as histórias, com suas personagens e cenários,formam o imaginário que sustenta a crença.Uma crença pode pertencer a uma nação, mas pode ser levada para muito longe.
No Brasil,tinhámos diversas crenças, as concentradas em um grupo e as comuns a várias nações indígenas.
E vieram inúmeras crenças, trazidas pelos portugueses,como a da sereia, por exemplo.É sabido que a crença nas sereias é de origem grega.
O interessante é entender as transformações que esta história sofreu, nessa viagem até Portugal, para chegarmos até o Brasil, onde a crença ganhou forma própria e inusitada.
Os homens do mar falavam de regiões perigosas, onde se ouvia um canto doce, encantador e irresistível, que atraía os navegadores. Ao aproximarem-se, eram atacados por pássaros enormes, com cabeça de mulher,que devoravam os marinheiros.
A história tem sua lógica, já que um canto doce seria mais próprio de um pássaro, do que de um peixe... e peixes não ficam pousados nos rochedos.
Por outro lado, nas tribos nórdicas,e também na Grécia,havia diversas histórias de seres aquáticos machos e fêmeas,mas, com forma humana.No mais eram monstros.
As sereias foram derrotadas por Ulisses, o ardiloso, e desapareceram para sempre.
Esta crença toca em uma outra, corrente em Portugal, de que Ulisses teria rumado para o extremo da Europa e fundado uma nova nação, cuja capital Lisboa, teria seu nome derivado de 'Ulissa bona', em honra a seu fundador.E a crença da sereia implantou-se em Portugal, sofrendo reformulações na imagem, mais ao espírito daquele povo. Agora a linda moça não é mais agressiva,tem cabelos escuros e, ao invés de ser alada,tem cauda de peixe.
Chegando aqui, encontra-se com a crença na Yara, a índia sedutora das águas doces. Asereia é retratada com formas muito avantajadas,fica morena, com cabelos escorridos e negros.Ganha ainda mais sensualidade e muita voluptuosidade.
Com a vinda das pessoas capturadas na África e escravizadas aqui,há um enriquecimento significativo do imaginário.Os negros bantu, cultuavam uma legião de seres habitantes das águas, a que chamavam de kiandas, e a quem atribuíam uma figura feminina, sendo que estas entidades podem possuir as iniciadas no culto. Já os Yorubá, chegados depois, contribuem com a figura dos orixás femininos,divindades ligadas a rios da Nigéria.Yemanjá, rainha do povo egbá,guerreira que defendia pessoalmente seu povo, frente aos ataques de outras tribos, cujo desaparecimento se envolveu na lenda de que teria ido viver no fundo mar, passou a reinar sobre todas as outras criaturas , ligadas a águas salgadas.Mas, também sofreu, e muito, o sincretismo, sendo quase que confundida, e tida como a própria sereia européia.
Quando o Kardecismo aporta por aqui, estas crenças se redimensionam e vão adquirir novo contorno, sendo já uma nova concepção.É que,como as pessoas aqui , durante as sessões religiosas, manifestavam espíritos de índios e escravos,caboclos e cangaceiros,contrariando as expectativas daquela doutrina,acostumada a tratar com espíritos de médicos, padres e freiras,e por isso não eram admitidas, dissidentes fundam a Umbanda, aplicando a doutrina kardecista à prática bantu. Yemanjá é adaptada ao gosto das pessoas brancas, e deixa de ser a robusta rainha de Egbá,de seios imensos e ventre protuberante e passa a ser retratada em moldes holiwoodianos.
Rita Hayworth estava em seu apogeu e seu estilo influenciou o imaginário da pintora que criou a imagem da mulher branca, esguia, vestida de seda azul, saindo do mar e espalhando pétalas de rosas e pérolas.Tiraram a espada da mão da guerreira.
Mas a velha sereia , de rabo de peixe, hoje se incorpora nas filhas-de-umbanda,descendentes de imigrantes italianos e espanhóis, e se arrasta na areia e chora, aos pés da imensa estátua de uma glamorosa Yemanjá branca...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mudança do Mundo

Aumento no buraco da camada de ozônio.Aquecimento Global.Derretimento da calota polar.Destruição em New Orleans. Tsunami em Samoa.Tragédia em Santa Catarina. Deslizamentos no Rio de Janeiro.Enchentes em São Paulo.Deslocamento do eixo magnético da Terra.Desgraça no Haiti.
É. A Coisa 'tá preta!
Mais uma vêz, entram em ação os alarmistas.Mais uma vez,entra em pânico o povo...
Mas é preciso não esquecer, que o planeta é como o rosto de uma mulher. Vai sofrendo transformações gradativas, inexoráveis, irreversíveis,cuja tentativa de disfarçar tende a resultar dispensável...
Só que o tempo do planeta envolve milhões de anos, e as transformações ocorrem em intervalos imensos. O problema, mesmo, só ocorre se você está lá, num momento de manifestação dessas mudanças.
É o que vivemos agora. O mundo está se reacomodando, como um cachorro, que acorda, dá uma olhada em volta, se sacode e volta a dormir.
Nada há para ser feito. Nada resolverá.
Não adianta fazer campanha, aproveitando a oportunidadwe, para arrecadar dinheiro para obras ridículas como as barragens de Veneza,que custarão bilhões de euros. Os mesmos bilhões que nunca se tem, quando se fala em acabar com a fome das populações exploradas.
Até Veneza sucumbirá! E não será o fim do mundo.
Aos pobres homens cabe ,no máximo, tentar sobreviver,pois não há na Terra, entre as criações humanas, nada que possa enfrentar a Natureza.
E, embora se possa relacionar o andamento das coisas à incompetência e ao relaxo dos administradores e à estupidez humana, como é o caso de São Paulo,na verdade tudo isso não é mais que uma ferroada de pernilongo para nosso indiferente planeta.
Também não esqueçamos que,ao levarmos uma picadinha de mosquito, lascamos logo uma bela bofetada, nem sempre certeira, em sua direção. Se não acabamos com o mosquito, pelo menos tentamos espantá-lo...
A Terra sabe se defender, e sabe a hora e o lugar, em que tem que entrar em ação.E não escolhe!
A hora é esta.
Tudo pode acontecer. Em qualquer lugar.
Não adianta promover reuniões de bacanas( sempre esbanjando dinheiro) em capitais confortabilíssimas da Europa para discutir o que fazer para evitar que os miseráveis do terceiro mundo não sofram... Nada adianta sair rápido do banho. É tarde demais.
O que se pode fazer é ficar esperto. Aqueles que não têem onde morar, mas mesmo assim não param de procriar, que não construam suas moradas em terrenos obviamente frágeis.
Mas, nada adianta. Se você vender sua casa linda, com piscina e tudo, bem em frente à praia da moda,e for morar numa pousada chiquérrima, ao pé da montanha, estará sujeito à surpresas do mesmo modo.
Não há para onde correr.
Mesmo assim, dá para se indignar com a postura de certos governantes. É sintomático o desprezo das potências da Europa por tentativas de agredir menos o planeta.
Justamente a Europa, que tanta desgraça já espalhou pelo mundo, em nome de sua necessidade de sedas e veludos.Justamente a Europa, que produziu todos os danos, que dizem ser responsáveis pelas tragédias atuais.
Olha o Haiti! Se você pensar bem, aqueles coitados que estão lá, e não fazem parte de nenhuma comissão de ajuda, para poder entrar num avião e cair fora,eles nem eram para estar lá, afinal.Foram carregados de sua terra, há um bom tempo, e escravizados para sustentar os europeus. Zica pura!
E, vamos fazer campanhas para arrecadar fundos!...
São autoridades descendo de aviões, em casacos bem quentinhos, são senhores do poder preocupadíssimos, que não param de discutir os problemas,reunidos em finos jantares com champagne. Todos elegantemente preocupados com os povos desgraçados.
Mas, assim como se repetem as mudanças da Terra,ou o desespero do povo,também os poderosos não farão nada.
Até porque, sabem que nada há a fazer.Não adianta nem rezar.
É a vida...
Mas, nem por isso, vamos continuar jogando tanta imundície nos rios.

Elza Soares, a deusa do samba

Seu talento incomum vai se aprimorando a cada passo.Uma pedra lapidada pela lâmina cruenta da dor e do sofrimento.
Elza Soares sempre fez sucesso, mas demorou para ser reconhecida devidamente. Aliás, para não escapar à regra no Brasil, precisou que americanos apontassem suas qualidades para que se as enxergassem aqui.
Lembram muito da sua origem no morro, das latas d'água que ela carregou na cabeça, da relação turbulenta que teve com Garrincha, pai de seus muitos filhos.
Mas, pouco se ouve falar de sua voz rara e de sua técnica admirável.
Poucos sabem sobre os estudos feitos nos Estados unidos, buscando desvendar os segredos de seu timbre e dos efeitos incríveis que ela arranca da voz
Além de um rítmo quente, seguro,Elza abusa da criatividade e esbanja poder nas improvisações irreverentes.E tudo isto numa embalagem primorosa, de quem nasceu com a verdadeira vocação de vedete, num corpo invejável de mulher negra. Linda, ela não economiza nas produções sempre modernas, impactantes, que revelam seu charme e bom gosto e seu senso de liberdade.
Suas interpretações são sempre comoventes, pois a emoção deriva de sua própria experiência de vida, se apóia na verdade, e completa a obra de arte primorosa de nossa diva maior, que atravessa décadas,surpreendendo com a incansável superação de si mesma . Sua interpretação do Hino Nacional, na abertura dos Jogos Pan Americanos é inesquecível e pode ser tida como uma consagração.
A vida de Elza é marcada por dificuldades e dissabores? Sim, mas isso é comum, afinal ela é mulher,brasileira,negra e de origem pobre. Mas é também o pedestal de nossa estrela mais brilhante.A mais bem articulada,a mais moderna.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Cruz e Souza, o Cisne Negro

Um homem elegante,refinado,cheio de estilo e de presença. Em sua terra, Desterro, que mais tarde viria a chamar-se Florianópolis, conquistou uma dignidade que realmente não era comum.Chegou a professor no Liceu em que fora aluno.
Mas,também sentiu o peso da discriminação, o crivo preconceituoso, que invertia as posições na sociedade da época: nem sempre os que alcançavam posições eram competentes,e os que tinham talento e valor, nem sempre encontravam lugar a altura de suas possibilidades.Valia mais o parentesco influente, a cor da pele...
Também não se vá pensar,que alguém chegou para ele e declarou sua hostilidade abertamente. Não. Foi, simplesmente preterido, num cargo público que conquistara por concurso.
Falamos de Brasil, e este preconceito velado, desmentido, hipócrita, sempre houve e ainda há, na nossa sociedade.
Quando seria para ele assumir uma posição mais segura, mais estável, exatamente o que se chama hoje de 'lugar ao Sol', um cargo público, se viu preterido e excluído.
Uma criatura que revelou em sua obra, um espírito delicado, uma sensibilidade especial, um aguçado temperamento para captar emoções muito altas, sentimentos sofisticados e uma sinceridade quase ingênua.
Uma criatura que,em sua vida e em seus relacionamentos, prendia-se a uma ética irrevogável, uma retidão de princípios que correspondia com o capricho e o esmero que esbanjava em seus escritos luxuosos ou em seu modo de vestir,harmoniosamente extravagante.
No Rio de Janeiro, para onde partiu, crente nas oportunidades que a capital prometia, confiante nas chances maiores de uma cidade mais 'moderna', encontrou o despeito, o deboche, a injúria.
Justamente tudo aquilo que eram suas jóias,isto foi o alvo em que seus rivais lançaram o amargor de seu medo, de sua ignorância e de sua mesquinharia.
Riram dele. Riram de seus poemas,de sua classe, seu charme, sua elegância.
Sem dúvida, Cruz e Souza foi um homem forte.Sob o fogo cruzado da humilhação e da miséria, perseguido pela injustiça, a incompreensão e o desprezo, ainda assim, o fino poeta jamais perdeu suas maneiras educadas. Jamais foi autor de qualquer grosseria.E convenhamos, diante das condições opressivas em que se viu, alguma descompostura certamente seria perdoada.
Assim como seus versos estavam acima do banal, assim mostrou-se ele,também, no tratar as desventuras que se acumulavam. Enfrentou a fome e a decadência econômica com a mesma resignação e nobreza com que encarou a doença de seus filhos e a loucura de sua mulher.
Uma vida pessoal estraçalhada. Um talento artístico desmerecido. Sua família reduzida pela tuberculose.
Tudo que lhe restou foi seu mundo interior, um universo imenso, requintado, onde ele era o deus, o mestre inquestionado. Em seus poemas deu-nos um pouco desse paraíso de sombras irisadas e brilhos perfumados.
Em meio às ondas bravas que rebentavam em sua vida, Cruz e Souza ainda encontrou ânimo para abraçar a causa maior, que era a luta pela liberdade, pelo direito à dignidade daqueles que eram escravizados e tratados com total desumanidade, que confundia os papéis, já que a justificativa para tanta selvageria era exatamente o não serem humanas aquelas criaturas. E vinha da máxima autoridade espiritual daquela gente, a Igreja Católica.
Mas todos sabemos que a Igreja era a maior interessada no sucesso daquela empresa, já que a coroa portuguesa parece que se comprazia em render tributos exorbitantes aos Papas,mesmo deixando a população do pais minguando de fome.
Num tempo em que se buscavam explicações científicas,que corroborassem as idéias racistas de inferioridade das pessoas negras, como forma de tornar menos monstruoso o comportamento das pessoas brancas, aquele negro retinto, de linhagem africana sem misturas, era não só uma pérola de sua raça, como era aquela pedrinha, que tanto incomoda dentro do sapato. Só se quer livrar-se dela, atirá-la para bem longe,e seguir suavemente.
O tempo passou. Não ficaram mais aqueles pés tão 'delicados', mas as palavras do poeta ainda brilham, como estrelas de mil pontas agudíssimas.
Uma luz que revela, enternece e perfura nossa alma, fazendo escorrer os sumos mais escondidos, que tentamos renegar.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

E a voz do povo, é o que?

Às vezes, dá para sentir-se num beco sem saída.
Há algum tempo, até os textos escolares do ginásio( quinta a oitava séries do ensino fundamental)poderiam suscitar suspeitas e complicações a seu autor.
Fiz um trabalho sobre marginalização,para a matéria de Educação Moral e Cívica,quando estudava no colégio Barão de Ramalho, na Penha, São Paulo,aí por 1978. Procurei ser minucioso e tratar todos os segmentos que eu entendia serem discriminados e excluídos da sociedade.
Até os Hare Krishna eu citei, já que os seguidores deste grupo hinduísta era perseguido com acusações diversas.
Aqueles jovens vestidos a caráter, cantando e dançando mantras pelas ruas do centro, causavam curiosidade, mas pregavam uma outra forma de ver e viver a vida, diferente da usual.
Antes de entregar meu trabalho, mostrei-o para a professora de História, dona Maria Aparecida de Aquino,que não tinha ainda o renome que alcançaria, mas que sempre já demonstrava seu talento e domínio da matéria. Além disso, ela era como uma amiga para mim. E ela sugeriu que eu analisasse bem meus escritos, antes de entregá-los, pois a dita professora de Moral e Cívica não era 'muito católica'...
Não se tinha direito de interferir nas coisas do poder. Nem se podia escolher aqueles que iriam nos comandar.
Era a ditadura militar, e as notícias de desmandos e abusos apavoravam até adolescentes.
Para mim, o ponto extremo da violência e selvageria do regime foi o caso Wladimir Herzog, o jornalista que teve a sola do pé arrancada nas sessões de tortura a que foi submetido, e acabou morrendo nas mãos dos carrascos.
Era um tempo sombrio, em que as intervenções eram planejadas sob a maior cautela e eram reprimidas com todo o rigor.
Tive oportunidade de participar de inúmeros manifestos e passeatas, que pipocavam por todas as causas.
Reivindicações de operários, de mulheres, de estudantes, de intelectuais, cada qual com suas premissas, mas todos lutando por condições mais dígnas, igualdade de direitos, liberdade de ir e vir.
Certa vez, na esquina da Rua Treze de Maio com Santo Antonio,na Bela Vista, tomava minha cervejinha, sentado na calçada, entre a turma de 'malucos'que apinhava o 'Bixiguinha', como era chamado o bar, e de repente passa uma viatura e atira uma bomba de gaz sobre as pessoas. O maior corre-corre, e naquele atropelo, meu amigo recebeu a fumaça bem no rosto, o que causou-lhe graves problemas nas vistas. Conseguí me safar.
As arbitrariedades se sucediam incansáveis.
O supra-sumo do ridículo, no entanto, foi para mim o delegado Richetti, que, durante seu reinado, mandava fechar quarteirões inteiros, colocando viaturas nas esquinas, e prendia todo e qualquer um que estivesse pela rua.
E então foram as 'Diretas Já!', 'Caras Pintadas' e estava enterrada a ditadura.
Agora conheceríamos a democracia, poderíamos andar despreocupados a qualquer hora e lugar e votar para presidente, que não mais seria um militar. Vivas!
Agora o povo teria voz.
E quando estavam o Collor e o Lula na disputa do cargo, cansei de ouvir mulheres dizendo: - 'Vou votar no Collor, pois o lula é muito feio. O collor é muito mais bonito'. E homens que diziam:-'O que que este peão pode saber de ser presidente? Vou votar no Collor, que sabe dar um mais bonito em sua gravata'.
Deu Collor. E o nó bonito que o Collor deu, foi no dinheiro do povo, que até hoje não sabe bem para onde foi o dinheiro. O gato comeu.
De lá para cá, as coisas ganharam outra cara. O descaramento tornou-se notório, e todo dia um novo escândalo de corrupção e roubalheira anima o noticiário.
Certos políticos adquiriram a coroa e a faixa de 'ladrão', de forma muito especial.
O Paulo Maluf, por exemplo, trás seu slogan criado por seus próprios eleitores: 'Ele rouba, mas faz!'... e lá vão e votam nele.
Sei que o que precisa de sérios ajustes é o sistema, em sua base. As leis é que precisam deixar de sustentar os vícios dos oportunistas, sequiosos por poder(leia-se, dinheiro fácil).
Mas, creio que seria muito mais significativo, se o próprio povo tomasse consciência da situação e de sua responsabilidade, e participasse da vida política com mais noção.
Mas esta consciência está muito na dependência da informação e da educação que tenha o povo,e a educação do povo depende das diretrizes do governo...
Ora, o governo se baseia no voto popular, mas o governo não prepara o povo para a realidade, não toma medidas elucidativas e deixa os brasileiros mergulhados em suas crendices, sem a menor condição de discernir a substância da aparência.
É quando se volta a sentir num beco-sem-saída...
Fica-se na dependência da escolha da população.
Então me lembro da velha passagem de Pôncio Pilatos, perguntando ao povo sobre sua preferência entre Jesus e Barrabás.
Aquele povo que tinha sido roubado, agredido e desrespeitado por Barrabás e que tinha sido alimentado e curado por Jesus, preferiu libertar a Barrabás.
Então pergunto, a vóz do povo não será a voz do Demo?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ídolos

Há personalidades que surgem como se fossem um sol.
Por algum motivo, nos encantam.
Parecem-se com a gente, ou com o que se queria ser. Fazem o que a gente gostaria de fazer.
E fazem muito bem, muito gostoso.
A estas personalidades chamamos ídolos, e se o encanto perdura, viramos seu fã.
O importante é que o ídolo se define de uma forma absoluta, inconsciente, que se procura resumir classificando-a como 'identificação'.
Há mais que só identificação na escolha de um ídolo.
Só vamos adquirir consciência plena do significado com o tempo, e podemos permanecer na condição de fãs sem jamais tomar conhecimento da profunda relação que há entre nossos ídolos e as verdades de nossa alma.
É curioso como vivenciamos nossa 'adoração' de forma tão despreocupada e como ela é tão significativa.
Entre meus vários ídolos, uma é, sem dúvidas,a grande rainha, a mãe de todos os outros. Seu nome é Clementina de Jesus, chamada a Rainha Quelé pelos seus seguidores.
Tive o gosto de conhecê-la, abraçá-la e beijar sua mão.
Recebí esta benção com a seriedade de quem recebe a primeira comunhão.
Tia clementina fazia uma participação no show do grupo Joelho de Porco, do Odair Cabeça de Poeta. Teatro Martins Pena, Na Penha. 1973,talvez.
Findo o show, corremos para a rua de trás do teatro e ficamos atentos à saida.
Quando ela saiu acompanhada da filha e de mais uma mulher, ríamos e tremíamos, eu, meu irmão, minha prima e minha irmã, mas não perdíamos um gesto sequer daquela pessoa, que era um monumento vivo, diante de nós e de nossas mãos.
Era como uma visagem, aqueles trajes coloridíssimos, brilhantes, e aqueles colares e pulseiras grossos e profusos. E panos sobrepostos, enrolados, as pontas que caiam...
Recebemos o autógrafo emocionados, vendo que ela pouco jeito tinha com a caneta e, pela sua letra, que escrever exigia dela mais esforço do que cantar.
Sua figura era fantástica, anacrônica,mas alí, naquele cenário de época que é o centro da Penha,era como se ela tivesse saído da beira do fogão da fazenda e ido à missa na igreja dos escravos.
Há uma Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito em frente ao teatro.
Há outra justamento no Largo do Rosário, na Avenida São João.
Eram igrejas exclusivas para as devoções dos escravizados e dos libertos, pois era proibida a entrada dos pretos nas igrejas luxuosas dos brancos.Mesmo depois da "Lei Áurea, as divisões persistiram.
Na Rua do Carmo,próxima à Praça da Sé, há a Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, onde se levevam escravos para receber a extrema-unção, antes de irem para a Igreja dos Enforcados, na Praça da Liberdade, onde fujões capturados encontravam seu destino e alcançavam a tão sonhada liberdade.
Os corpos das vítimas eram transformados em sebo, com o qual se dava polimento em paredes de pedras de várias igrejas, como o Mosteiro de São Bento.
Clementina a minha frente, eu em seus braços.
Fui parar em 1800.
Nunca saberemos direito o verdadeiro significado de nossas adorações.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Esteja em paz!

E então, sente-se o peso de um mundo grandíssimo reduzindo-nos implacavelmente. E ouve-se de todo lado: -'Felicidades!', 'Tudo de bom!', 'Fique em paz!' .
São as contradições.
Mas a única postura possível, mesmo, é ficar em paz. Tentar manter-se completamente em paz, em meio a toda loucura e turbulência de nosso tempo...
A chave é lembrar-se sempre que o ser humano foi quem inventou tudo. As coisas terríveis que o aprisionariam, o escravizariam... tudo criado para organizar aquelas criaturas que surgiram no mundo e proliferaram como um bolor.
Lembrar que foi o próprio ser humano quem disse, que ele era o centro do universo e que havia um deus de figura semelhante, governando tudo, como quem assiste a um Big brother.
Afora as mil câmeras, que vêm sendo instaladas por todas as esquinas, não há ninguém te vigiando. Não haverá julgamento algum. Pode-se relaxar!
Ficar em paz e realizar o que tem de ser feito.
Nada levará a nada mesmo, e o tempo tudo levará...
Muito obrigado, e tudo de bom para vovê também!

Festas

A época para iniciar este blog não poderia ser mais propícia.
Justamente no meio das 'festas', o que temos?
Depois de um ano de desaforos dos senhores políticos e desmandos da força policial, não se fala mais nesses assuntos.
O que se vê é gente pasmada vendo sua casa descer na avalancha, outras, desesperadas, vendo o corpo de seus parentes sendo retirado do meio da lama.
E muita iluminação espetacular pela cidade, pelo país e pelo mundo. Fogos e bombas em profusão. Megashows...
A época é perfeita, pois retrata de forma compácta o velho movimento do mundo, que, no fim, nunca se acaba...
A vida definitivamente encarada como notícia. Um tempo em que se vale o quanto se possa contar.
Quer-se ver de tudo, e nada mais comove ninguém.
Como ficar comovido, se moleques sendo perfurados por agulhas, meninas jogadas no lixo, ou atiradas do sexto andar, pela janela, e pelos próprios e pais, ficam comuns no noticiário.
É o tempo da contradição.
Milhões que aparecerão para serem investidos em projetos esportivos mirabolantes, e o mundo se acabando em lama.
Um cenário dantesco, que me parece ótimo para dar meu parecer geral:
- A coisa tá preta!!!

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