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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sereias ? O que seriam ?

Nossas crenças são aprendidas.
Este ensinamento é feito através de imagens,idéias que se vão configurando,e figuras mesmo, um desenho para explicar melhor ou uma estátua.
Histórias que vão sendo contadas. Assim,a crença, da qual não se sabe a história é crendice, e as histórias, com suas personagens e cenários,formam o imaginário que sustenta a crença.Uma crença pode pertencer a uma nação, mas pode ser levada para muito longe.
No Brasil,tinhámos diversas crenças, as concentradas em um grupo e as comuns a várias nações indígenas.
E vieram inúmeras crenças, trazidas pelos portugueses,como a da sereia, por exemplo.É sabido que a crença nas sereias é de origem grega.
O interessante é entender as transformações que esta história sofreu, nessa viagem até Portugal, para chegarmos até o Brasil, onde a crença ganhou forma própria e inusitada.
Os homens do mar falavam de regiões perigosas, onde se ouvia um canto doce, encantador e irresistível, que atraía os navegadores. Ao aproximarem-se, eram atacados por pássaros enormes, com cabeça de mulher,que devoravam os marinheiros.
A história tem sua lógica, já que um canto doce seria mais próprio de um pássaro, do que de um peixe... e peixes não ficam pousados nos rochedos.
Por outro lado, nas tribos nórdicas,e também na Grécia,havia diversas histórias de seres aquáticos machos e fêmeas,mas, com forma humana.No mais eram monstros.
As sereias foram derrotadas por Ulisses, o ardiloso, e desapareceram para sempre.
Esta crença toca em uma outra, corrente em Portugal, de que Ulisses teria rumado para o extremo da Europa e fundado uma nova nação, cuja capital Lisboa, teria seu nome derivado de 'Ulissa bona', em honra a seu fundador.E a crença da sereia implantou-se em Portugal, sofrendo reformulações na imagem, mais ao espírito daquele povo. Agora a linda moça não é mais agressiva,tem cabelos escuros e, ao invés de ser alada,tem cauda de peixe.
Chegando aqui, encontra-se com a crença na Yara, a índia sedutora das águas doces. Asereia é retratada com formas muito avantajadas,fica morena, com cabelos escorridos e negros.Ganha ainda mais sensualidade e muita voluptuosidade.
Com a vinda das pessoas capturadas na África e escravizadas aqui,há um enriquecimento significativo do imaginário.Os negros bantu, cultuavam uma legião de seres habitantes das águas, a que chamavam de kiandas, e a quem atribuíam uma figura feminina, sendo que estas entidades podem possuir as iniciadas no culto. Já os Yorubá, chegados depois, contribuem com a figura dos orixás femininos,divindades ligadas a rios da Nigéria.Yemanjá, rainha do povo egbá,guerreira que defendia pessoalmente seu povo, frente aos ataques de outras tribos, cujo desaparecimento se envolveu na lenda de que teria ido viver no fundo mar, passou a reinar sobre todas as outras criaturas , ligadas a águas salgadas.Mas, também sofreu, e muito, o sincretismo, sendo quase que confundida, e tida como a própria sereia européia.
Quando o Kardecismo aporta por aqui, estas crenças se redimensionam e vão adquirir novo contorno, sendo já uma nova concepção.É que,como as pessoas aqui , durante as sessões religiosas, manifestavam espíritos de índios e escravos,caboclos e cangaceiros,contrariando as expectativas daquela doutrina,acostumada a tratar com espíritos de médicos, padres e freiras,e por isso não eram admitidas, dissidentes fundam a Umbanda, aplicando a doutrina kardecista à prática bantu. Yemanjá é adaptada ao gosto das pessoas brancas, e deixa de ser a robusta rainha de Egbá,de seios imensos e ventre protuberante e passa a ser retratada em moldes holiwoodianos.
Rita Hayworth estava em seu apogeu e seu estilo influenciou o imaginário da pintora que criou a imagem da mulher branca, esguia, vestida de seda azul, saindo do mar e espalhando pétalas de rosas e pérolas.Tiraram a espada da mão da guerreira.
Mas a velha sereia , de rabo de peixe, hoje se incorpora nas filhas-de-umbanda,descendentes de imigrantes italianos e espanhóis, e se arrasta na areia e chora, aos pés da imensa estátua de uma glamorosa Yemanjá branca...

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