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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Cruz e Souza, o Cisne Negro

Um homem elegante,refinado,cheio de estilo e de presença. Em sua terra, Desterro, que mais tarde viria a chamar-se Florianópolis, conquistou uma dignidade que realmente não era comum.Chegou a professor no Liceu em que fora aluno.
Mas,também sentiu o peso da discriminação, o crivo preconceituoso, que invertia as posições na sociedade da época: nem sempre os que alcançavam posições eram competentes,e os que tinham talento e valor, nem sempre encontravam lugar a altura de suas possibilidades.Valia mais o parentesco influente, a cor da pele...
Também não se vá pensar,que alguém chegou para ele e declarou sua hostilidade abertamente. Não. Foi, simplesmente preterido, num cargo público que conquistara por concurso.
Falamos de Brasil, e este preconceito velado, desmentido, hipócrita, sempre houve e ainda há, na nossa sociedade.
Quando seria para ele assumir uma posição mais segura, mais estável, exatamente o que se chama hoje de 'lugar ao Sol', um cargo público, se viu preterido e excluído.
Uma criatura que revelou em sua obra, um espírito delicado, uma sensibilidade especial, um aguçado temperamento para captar emoções muito altas, sentimentos sofisticados e uma sinceridade quase ingênua.
Uma criatura que,em sua vida e em seus relacionamentos, prendia-se a uma ética irrevogável, uma retidão de princípios que correspondia com o capricho e o esmero que esbanjava em seus escritos luxuosos ou em seu modo de vestir,harmoniosamente extravagante.
No Rio de Janeiro, para onde partiu, crente nas oportunidades que a capital prometia, confiante nas chances maiores de uma cidade mais 'moderna', encontrou o despeito, o deboche, a injúria.
Justamente tudo aquilo que eram suas jóias,isto foi o alvo em que seus rivais lançaram o amargor de seu medo, de sua ignorância e de sua mesquinharia.
Riram dele. Riram de seus poemas,de sua classe, seu charme, sua elegância.
Sem dúvida, Cruz e Souza foi um homem forte.Sob o fogo cruzado da humilhação e da miséria, perseguido pela injustiça, a incompreensão e o desprezo, ainda assim, o fino poeta jamais perdeu suas maneiras educadas. Jamais foi autor de qualquer grosseria.E convenhamos, diante das condições opressivas em que se viu, alguma descompostura certamente seria perdoada.
Assim como seus versos estavam acima do banal, assim mostrou-se ele,também, no tratar as desventuras que se acumulavam. Enfrentou a fome e a decadência econômica com a mesma resignação e nobreza com que encarou a doença de seus filhos e a loucura de sua mulher.
Uma vida pessoal estraçalhada. Um talento artístico desmerecido. Sua família reduzida pela tuberculose.
Tudo que lhe restou foi seu mundo interior, um universo imenso, requintado, onde ele era o deus, o mestre inquestionado. Em seus poemas deu-nos um pouco desse paraíso de sombras irisadas e brilhos perfumados.
Em meio às ondas bravas que rebentavam em sua vida, Cruz e Souza ainda encontrou ânimo para abraçar a causa maior, que era a luta pela liberdade, pelo direito à dignidade daqueles que eram escravizados e tratados com total desumanidade, que confundia os papéis, já que a justificativa para tanta selvageria era exatamente o não serem humanas aquelas criaturas. E vinha da máxima autoridade espiritual daquela gente, a Igreja Católica.
Mas todos sabemos que a Igreja era a maior interessada no sucesso daquela empresa, já que a coroa portuguesa parece que se comprazia em render tributos exorbitantes aos Papas,mesmo deixando a população do pais minguando de fome.
Num tempo em que se buscavam explicações científicas,que corroborassem as idéias racistas de inferioridade das pessoas negras, como forma de tornar menos monstruoso o comportamento das pessoas brancas, aquele negro retinto, de linhagem africana sem misturas, era não só uma pérola de sua raça, como era aquela pedrinha, que tanto incomoda dentro do sapato. Só se quer livrar-se dela, atirá-la para bem longe,e seguir suavemente.
O tempo passou. Não ficaram mais aqueles pés tão 'delicados', mas as palavras do poeta ainda brilham, como estrelas de mil pontas agudíssimas.
Uma luz que revela, enternece e perfura nossa alma, fazendo escorrer os sumos mais escondidos, que tentamos renegar.

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